O Big Mac pode ser considerado indicador econômico?

Professor Fernando Arbache

 
                A lanchonete McDonald's existe em mais de 120 países somando, aproximadamente, 30.000 lojas ao redor do mundo. São quase 50 milhões de clientes atendidos a cada dia.
Estar nas principais economias do planeta, oferecendo exatamente o mesmo produto, permitiu com que o periódico britânico, The Economist, criasse um indicador denominado “Big Mac Index”.
O Big Mac Index é um método informal, que tem por objetivo mensurar o Purchasing Power Parity (PPP), que é o Paridade de Poder Aquisitivo, entre as moedas dos países, avaliando o equilíbrio dos preços dos bens em todo o globo.
O Big Mac Index funciona da seguinte maneira: se um Big Mac custar 3 dólares em um país e 3 euros em outro, então 1 euro tem valor equivalente a 1 dólar, no que se refere na capacidade de compra de uma moeda.
A premissa esperada na análise do preço do Big Mac é baseado no seguinte argumento, como o sanduiche é produzido com os mesmos ingredientes em todo o mundo, não existindo nenhum item especial que encareça o sanduíche nacionalmente, quando transformado em dólar, em teoria, o valor deveria ser o mesmo em todo o mundo.
Ao converter o sanduiche da moeda nacional para dólar de diversos países temos o seguinte resultado:
 
1- Noruega - US$ 7,20
2- Suécia - US$ 6,56
3- Suíça - US$ 6,19
4- Brasil - US$ 4,91
5- Dinamarca - US$ 4,90
6- Colômbia - US$ 4,39
7- Zona do Euro - US$ 4,33
8- Canadá - US$ 4,00
9- Turquia - US$ 3,89
10- Israel - US$ 3,86
 
O resultado mostra a distorção do preço do Big Mac no mundo, porém o mais interessante é que, ao avaliar o preço no Brasil, o mesmo é o quarto mais caro do mundo.
Avaliando todos os países que estão nos 10 preços mais caros do mundo, podemos chegar a seguinte inconsistência. Sendo o Brasil o maior produtor de carne do mundo e um dos maiores celeiros agrícolas do planeta, qual o motivo para que o Big Mac brasileiro tenha preços semelhantes a países que tem em seu território deserto ou escarpas, tendo o custo de produção agrícola absolutamente gigantesco se comparado ao Brasil?
Podemos citar como exemplo Israel, que tem suas produção agrícola em kibutz, com restrição de água, território, solo pouco fértil e grandes problemas geopolítico, porém com o preço do sanduiche valendo 80% do valor do sanduiche brasileiro, ou seja, mais acessível.
Os tributos certamente são um dos motivos que podem levar ao alto custo do Big Mac, e coincidentemente, todos os países da lista tem altos tributos.
Apenas para que possamos avaliar como os dez países gastam os tributos recolhidos, analisemos o ranking da OMS (Organização Mundial da Saúde) que avalia a qualidade da saúde pública oferecida aos seus cidadãos. O Brasil ficou em 125º lugar no ranking mundial entre 191 países atrás da Bósnia, Líbano igualando-se ao Egito. A Noruega ficou em 11º, Suíça em 20º, Suécia em 23º e o país pior classificado, da lista dos Big Mac mais caros do mundo, excluindo o Brasil foi a Turquia que ficou em 70º lugar.
Os custos tributários, portanto podem responder por parte do alto valor cobrado pelo Big Mac no Brasil, porém não é apenas este elemento que aumenta os custos de produção do Mcdonalds.
Os custos de produção agrícola no Brasil é extremamente alto, se levarmos em consideração os baixos custos de mão de obra existente no campo.
Vamos considerar a soja como um exemplo a ser analisado. O custo médio de produção, em dólar por tonelada, na fazenda da soja é de US$ 274.00. Nos Estados Unidos, onde a mão de obra chega a ser mais de 1000% maior que do Brasil é de US$ 311.00, ou seja, 88% do preço norte americano.
O valor da tonelada de soja no porto, ou seja, após sair da fazenda e ser movimentado até o navio, passa no Brasil para US$ 394.00. Nos Estados Unidos, a soja no porto passa a valer US$ 341.00, ou seja, a soja brasileira passa a ser mais cara que a norte americana, passando a valer 15,5% a mais. O custo de movimentação da soja, do campo até o porto, é de 120% do valor do produto quando colhido no Brasil, enquanto a logística norte americana equivale a 9,6% do custo na fazenda.
O BigMac é um bom indicador econômico, pois ele pode nos dar uma percepção dos problemas que temos em relação a nossa economia.
A economia brasileira, apesar de pujante, está carente de uma reforma estrutural e necessitando de investimento em infraestrutura, desoneração dos tributos e custos trabalhistas.
Enquanto nosso governo não compreender a urgência e necessidade destas mudanças, estaremos pagando nosso BigMac com o mesmo valor que os dinamarqueses, sem, no entanto, termos os benefícios sociais que este povo europeu recebe de seu país.
 

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