Cálculo Diferencial e Integral: uma disciplina temível?

A matemática deve ser aprendida de forma prática

Marcos Pereira dos Santos (*)

prof-marcos-pereira webDesde sempre, a Matemática tem sido considerada por grande parte dos estudantes de todos os níveis e modalidades de ensino uma disciplina complicada, difícil para se aprender.

Na universidade, a situação não é diferente, principalmente quando se trata da disciplina de Cálculo Diferencial e Integral, a qual faz parte da grade curricular de todos os cursos de graduação nas áreas de Ciências Exatas e Naturais (Matemática, Física, Química, Geografia e Engenharias em geral), Ciências Sociais Aplicadas (Administração, Economia e Contabilidade) e Ciências Biológicas e da Saúde (Medicina, Odontologia, Farmácia e Bioquímica, Biologia, Veterinária e Agronomia).

Cada curso apresenta uma ementa mais ou menos semelhante, diferenciando-se substancialmente no que diz respeito às aplicações práticas do Cálculo Diferencial e Integral nas diferentes áreas do conhecimento. Todavia, as queixas apresentadas pelos acadêmicos desses cursos são unânimes, as quais estão diretamente atreladas, de acordo com Nascimento (2000) e Rezende (2003), ao grau de complexidade da disciplina, à metodologia de trabalho utilizada pelos professores universitários em sala de aula, à falta de uma aplicação prática da disciplina no campo de atividade profissional e às extensas listas de exercícios propostos semanalmente pelos docentes a título de fixação dos conteúdos curriculares abordados.

A concepção da maioria dos professores que leciona a disciplina de Cálculo Diferencial e Integral nas universidades é a de que somente se aprende matemática por meio de muito treino, repetição e resolução de exercícios. Não há dúvida de que a aprendizagem matemática pode, também, ocorrer dessa forma. Entretanto, pensar desse modo não deixa de ser um tanto quanto arcaico, tradicional. Dizemos isso, porque acreditamos que a matemática deve ser aprendida de forma prática, concreta, contextualizada e interdisciplinar, onde o aluno seja capaz de “fazer matemática” e pensar, raciocinar, refletir, interpretar e analisar matematicamente. Somente o treinamento mecânico e repetitivo não basta. É preciso ir muito além.

Nada impede que o professor universitário trabalhe os conteúdos de Cálculo Diferencial e Integral utilizando a chamada “pedagogia de projetos”, a etnomatemática, a resolução de problemas, a modelação ou a modelagem matemática, o recurso aos jogos ou até mesmo a história da matemática como metodologias básicas para o ensino dessa disciplina (ainda) tão temível, sem deixar de lado a sistematização dos conteúdos programáticos, necessária para o processo de (re)construção de novos conhecimentos e saberes.

Num primeiro momento, pode até parecer estranho abordar os conteúdos de funções, teoria dos limites de funções, derivação e integração de funções, de uma ou mais variáveis, numa perspectiva didático-pedagógica contextualizada, interdisciplinar, multidisciplinar, pluridisciplinar ou transdisciplinar. Contudo, o êxito no processo ensino-aprendizagem do Cálculo Diferencial e Integral será alcançado a partir de um sólido conhecimento do professor acerca das estratégias didático-pedagógicas concernentes a cada metodologia de ensino a ser utilizada e de um plano de ação bem estruturado.

Ademais, entendemos ser preciso também mostrar aos acadêmicos a origem e evolução histórica da matemática e do Cálculo em si, as inúmeras aplicações práticas do Cálculo Diferencial e Integral nas diferentes áreas do saber e, principalmente, a relação umbilical existente entre o Cálculo Diferencial, idealizado por Isaac Newton (1642-1727) e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) no século XVI, e o Cálculo Integral, estruturado por Pierre Fermat (1601-1665) e George Friedrick Riemann (1826-1886) no século XVII. Agindo dessa forma, o ensino do Cálculo Diferencial e Integral tornar-se-á mais interessante e a aprendizagem do mesmo, por sua vez, muito mais significativa, prazerosa e estimulante para os alunos.  

Que possamos, pois, romper paradigmas, mitos, tabus e preconceitos, a fim de mostrar que a matemática não é um “bicho-de-sete-cabeças” nem tampouco um “bicho-papão”. Ela é uma ciência exata, dinâmica e historicamente construída pela humanidade ao longo dos séculos. O momento de transformar a realidade é agora. Comecemos, então, pelas escolas e universidades. Comecemos pelos professores de matemática. Comecemos, enfim, pelo Cálculo Diferencial e Integral. Mãos à obra!

Referências

NASCIMENTO, J. L. Uma proposta metodológica para a disciplina de Cálculo I. In: Anais do VI Encontro de Educação em Engenharia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, p.11-18, 2000.

REZENDE, W. M. O ensino de Cálculo: dificuldades de natureza epistemológica. In: MACHADO, N. J.; CUNHA, M. O. (Orgs.). Linguagem, conhecimento, ação: ensaios de epistemologia e didática. São Paulo: Escrituras, p.313-336, 2003. (Coleção Ensaios Transversais – v.23).

(*) Marcos Pereira dos Santos é doutorando e mestre em Educação, e licenciado em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Escritor, poeta e professor adjunto do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE), junto a cursos de graduação (bacharelado/ licenciatura) e pós-graduação lato sensu, em Ponta Grossa/PR. Endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.    

 

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado