Matemática: (ainda) um problema para os estudantes brasileiros dos dias atuais?

Não seria culpa dos próprios pais que amedrontam os filhos?

Marcos Pereira dos Santos (*)

prof-marcos-pereira webNo Brasil, o temor dos estudantes, de todos os níveis e modalidades de ensino, em relação à matemática é algo bastante corriqueiro e deveras preocupante. De modo geral, pode-se dizer que o medo de matemática tem seu início no âmbito familiar, quando muitos pais tendem a ‘amedrontar’ as crianças dizendo para elas que matemática é algo difícil, complicado de aprender.

Ao ingressar na escola, a criança traz internalizada em seu pensamento essa ideia, podendo ou não acarretar problemas para o seu aprendizado referente à matemática. Salvo raras exceções, alguns poucos alunos apresentam grande facilidade em aprender matemática e operar com números e fórmulas matemáticas. Aqueles que não demonstram tal facilidade passam praticamente todo o período de escolarização básica (Educação Infantil + Ensino Fundamental + Ensino Médio) até o Ensino Superior mantendo verdadeira aversão à disciplina de Matemática e a tudo o que a ela diz respeito, o que acarreta muitos empecilhos aos alunos para lidar com suas situações cotidianas e profissionais que exigirão deles certa dose de conhecimento matemático.

Grosso modo, essa aversão à matemática está atrelada a diversas causas de origem psicológica, didático-pedagógica, sociocultural etc., se configurando, em certa medida, como uma espécie de “trauma” muito difícil de ser superado, mas não impossível. Na escola, as dificuldades de aprendizagem em matemática apresentadas pelos alunos estão, entre outros fatores, diretamente relacionadas à metodologia de ensino utilizada pelos professores em sala aula. Dizemos isso porque, em geral, a matemática é ensinada de forma puramente mecânica, descontextualizada e (quase) nada atraente, baseada simplesmente na exposição oral do professor e na resolução manual de exercícios repetitivos via aplicações de fórmulas matemáticas por parte dos educandos.

Nesse contexto, a concepção educacional subjacente a esse processo é a de que matemática se aprende somente resolvendo enormes listas de exercícios a partir de exemplos-modelo apresentados pelo professor em sala de aula e/ou pelo livro didático de matemática adotado pela escola.

Todavia, há alguns poucos professores que buscam ‘facilitar’ a aprendizagem dos alunos em relação à matemática adotando diferentes estratégias didático-metodológicas de ensino, tais como: utilização de material-sucata; construção de maquetes; exibição e análise de vídeos didáticos; uso de jogos educativos; solicitação de pesquisas científicas (bibliográficas e eletrônicas); realização de visitas técnicas (aulas-passeio) e pesquisas de campo; encenação de peças teatrais (dramatização); desenvolvimento de experiências científicas em laboratório de Física, Química e/ou Biologia; utilização de softwares educativos (Mega Logo, Cabri Geomètre, Matlab etc.); proposição de atividades envolvendo reportagens de jornal, recortes, colagem, pintura e música; dentre outras.  

Além dessas estratégias, pode-se também destacar a existência de professores, tanto da Educação Básica quanto da Educação Superior, que se utilizam da Etnomatemática, da Resolução de Problemas, da Modelagem Matemática e da Modelação Matemática, em especial, como importantes metodologias alternativas de ensino para o aprendizado da matemática na escola e na universidade. Entretanto, isso não é suficiente. Faz-se necessário que todas as estratégias didático-metodológicas de ensino adotadas pelo professores sejam utilizadas de forma consciente, equilibrada e contextualizada, tendo em vista, inclusive, a realização de atividades de cunho interdisciplinar, transdisciplinar, multidisciplinar e pluridisciplinar, a fim de que se possa alcançar resultados efetivamente satisfatórios.

Para tanto, é urgente e necessário repensar os currículos de matemática das escolas de Educação Básica e dos cursos de bacharelado e licenciatura que contêm disciplinas de matemática, a prática pedagógica dos professores de matemática de todos os níveis e modalidades de ensino, a estrutura curricular e didático-metodológica dos cursos de formação inicial e continuada de professores de matemática, objetivando assim criar uma nova “cultura pedagógica” concernente ao ensino e, consequentemente, ao aprendizado da matemática na escola e também na universidade.

Em outras palavras, isso significa dizer que a matemática deve ser percebida pelos aprendizes como algo que não se resume apenas em fórmulas matemáticas a serem utilizadas em exercícios de aplicação propostos pelo livro didático escolar e/ou pelo professor em sala de aula, mas que a matemática é uma ciência histórica e socialmente construída pelos homens ao longo dos tempos na tentativa de solucionar diferentes situações-problema do cotidiano, uma vez que ela está presente na natureza, na música, na dança, no teatro, nas artes plásticas, no cinema, na literatura, na Filosofia e nas demais ciências em geral.

Enfim, a matemática deve ser compreendida não somente como algo abstrato, mas também e, principalmente, como uma atividade prática, concreta, ativa, dinâmica e significativa; constituindo-se dessa forma como processo e produto do pensar e do fazer humano. Daí a matemática ser parte integrante tanto da escola da vida quanto da vida na escola.

Sem a pretensão de esgotar o assunto em questão, mas numa perspectiva de finalização, entendemos que a matemática aprendida na escola precisa estabelecer uma relação umbilical com a matemática existente fora da escola, isto é, com a matemática percebida, vivida e (re)construída pelos alunos em inúmeras situações do seu cotidiano real.

É importante, pois, desmistificar os tabus, mitos, preconceitos e estereótipos de toda e qualquer ordem que gravitam em torno do ensino e da aprendizagem da matemática na escola e na universidade. Somente desse modo será possível que a matemática não continue sendo (ainda) um problema para os estudantes brasileiros. Portanto, lutemos militantemente para isso.

O convite foi feito e o desafio está posto. É hora de “arregaçar as mangas” e colocar a “mão na massa”. A mudança só ocorre através de uma ação efetivamente prática. O momento de transformar é agora! Vamos começar pela escola? Vamos começar por nós?

 

(*) Marcos Pereira dos Santos é doutorando em Educação, linha de pesquisa “Ensino e Aprendizagem”, e licenciado em Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Escritor, poeta e professor adjunto do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE), junto a cursos de graduação (bacharelado/licenciatura) e pós-graduação lato sensu, em Ponta Grossa/PR. Endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.  

 

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