A geração "nem, nem" e os futuros profissionais “des, des”
Gilberto Alvarez (*)
Um em cada cinco brasileiros entre 18 e 25 anos não trabalha nem estuda. É o que revelou a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em agosto. Jovens que não encontram espaço no mercado de trabalho, não demonstram interesse em procurar emprego e também não querem saber de continuar a estudar. Um dado alarmante, que revela o tamanho da bomba-relógio que ameaça o futuro do Brasil.
São 5,3 milhões de jovens desinteressados, os chamados "nem, nem", que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. O que mais impressiona é pensar que, se fossem computados aqueles que ainda procuram alguma ocupação, o número saltaria para 7,2 milhões. Num cenário de baixo desemprego e de economia em expansão, esta é uma parcela importante de brasileiros que não está participando do desenvolvimento experimentado nos últimos anos.
Segundo a pesquisa do Ipea, a maioria deles está inserida em domicílios de renda mais baixa e depende fortemente do apoio familiar. Além disso, a escolaridade foi vista como fator primordial para a participação nas atividades econômicas do país, ou seja, quanto maior a escolaridade dos pais, maior a frequência do jovem à escola. Isso explica a falta de interesse, pois o grupo que nem trabalha e nem estuda mora com os pais e acaba tendo como referência alguém que não deu continuidade aos estudos.
O fato é: os jovens precisam ser estimulados e orientados. Como não encontram estímulo em casa, a escola passa a ter o papel crucial de ajudá-los nessa busca por um caminho a seguir. Acontece que ainda não somos exemplos no quesito educação e o grande referencial da sala de aula é o professor.
O professor tem um papel fundamental. É preciso qualificá-lo, dar-lhe condições pedagógicas e melhorar substancialmente sua remuneração. Um professor bem preparado e motivado é meio caminho andado para despertar no aluno o desejo por aprender, participar da sociedade e exercer seu papel de cidadão. Além disso, são necessários investimentos maciços em educação pública como um todo, desde a primeira infância, passando pelo ensino fundamental e médio.
Temos uma juventude sedenta por mudança, com enorme potencial para transformar o país, fazer avançar a democracia e reduzir a desigualdade social. Não podemos permitir que ela se imobilize, se sinta desmotivada por não conseguir visualizar o caminho que deve seguir. Caso contrário, os 5,3 milhões de jovens “nem, nem” de hoje, serão certamente os profissionais desmotivados e despreparados – “des, des” – de amanhã.
(*) Gilberto Alvarez Giusepone Jr. é especialista em Enem e diretor do Cursinho da Poli (SP), instituição sem fins lucrativos que trabalha a educação como inclusão social.
Comentários
Por que não se fala em um BOM CURRÍCULO PARÇA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO, PARA TODO O PAÍS? Isto é o que mais desmotiva alunos. Chega ao 5º ano e não sabe ESCREVER BEM, LER BEM E O BÁSICO EM MATEMÁTICA,(base mal construída) como esperar que fique na escola e se interesse, nos anos seguintes? Outro ponto fundamental: direção de colégios tem que ter melhor preparo. Colégio com diretor competente, a aprendizagem é melhor, tudo funciona melhor. Por que só professor pode ser diretor? Por que não pode ser um administrador?
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