A vida acadêmica confunde-se com a vida pessoal?

Professora Cristina Toledo conta ao ProfessorNews suas experiências.

A rotina de um professor passa por muitos afazeres, como: preparar aulas; fazer-se entender pelos seus alunos, aplicar e corrigir provas... Isso, sem falar quanto o docente investe em si próprio, quando decide aplicar seu tempo em pesquisas acadêmicas, cursos de especialização ou quando defende seus projetos em congressos, palestras, encontros e demais eventos.

 Chega o dia em que todo professor se pergunta se não priorizou demais a carreira e se esqueceu da vida pessoal. Há tempo para a família? Para se divertir? Namorar? Visitar outros lugares ou até mesmo curtir férias? Para professores que atuam de forma constante em estudos, pesquisas e trabalhos de andragogia, a resposta tende a ser “não”, e acabam se culpando por não terem uma vida longe das salas e corredores das instituições de ensino.

No entanto, existem exceções. Nesse caso, mais precisamente, quando a própria vida acadêmica acaba se misturando com o dia-a-dia fora da sala de aula ou da biblioteca. O Portal Professornews conversou com a Prof.ª Dr.ª Cristina de Toledo Romano, da Universidade Nove de Julho (Uninove), do departamento de História, sobre como sua vida pessoal está inteiramente ligada à profissão. Entre os assuntos destaca-se um casamento que já dura mais de 20 anos, também com um profissional da educação.

Professornews – A partir de quando a sua vida acadêmica passou a influenciar sua vida pessoal?

Minha vida acadêmica, que se iniciou com o curso de História na PUC de São Paulo, no início dos anos de 1980, influenciou todos os rumos da minha vida pessoal. Foi na faculdade que aprendi a observar o mundo em toda a sua complexidade, que passei a questionar as formas de vida, e que conquistei instrumentos para direcionar a minha própria vida, fazendo minhas opções com liberdade e autonomia. Foi na faculdade que me encantei com aqueles que se tornaram minhas referências para me tornar professora e prosseguir na carreira do magistério, há vinte e seis anos.

PN – Além do conhecimento didático, o que o mundo acadêmico lhe proporcionou como pessoa?

A partir da academia, passei a observar mais atentamente a cidade onde eu nasci, a me apropriar de seu patrimônio, a conquistar os espaços e a perceber de modo mais sensível seus habitantes. Foi ela que aprofundou meu gosto pela leitura, me fez desenvolver um apreço pelas artes: literatura, pintura e cinema. Essas linguagens, além de terem sido objeto de meus estudos nos principais trabalhos que realizei no âmbito da pós-graduação, determinaram minha forma de estar no mundo.

PN – A senhora comentou que conheceu seu marido ainda na faculdade. Como foi isso?

Conheci meu marido ainda na graduação, depois de algumas semanas juntos com grupos de trabalhos, começamos a namorar. Foi a academia que me propiciou conhecer a pessoa com quem eu mantenho uma relação conjugal há mais de vinte anos, e com quem tenho um filho que tanto amo. Tornamo-nos cúmplices na vida privada e na profissão; trabalhamos juntos em muitos projetos e lecionamos, atualmente, na mesma instituição de ensino. Nos entendemos e nos apoiamos nessa carreira que demanda enorme dedicação e muito amor. Na verdade, a vida acadêmica tira-nos tanto tempo, que a gente, geralmente, acaba se relacionando com pessoas do meio, porque quase não há tempo para circular em outros ambientes.

PN – Em muitos casos, conhecer o Brasil ou o exterior só é possível quando os docentes estão desenvolvendo projetos de pesquisa, defendendo teses de especialização ou para cursos de pós-graduação. Com a senhora aconteceu isso?

Nunca viajei para fora do país a trabalho, mas já viajei muito pelo Brasil em projetos de pesquisa. Fiz grandes amigos com os quais realizei viagens, entabulei boas conversas e amarrei algumas discussões; são amigos queridos que continuam em minha companhia. Enfim, a academia determinou todos os meus gostos. As viagens estão entre os principais; desde os primeiros anos do curso. Na PUC, assimilei o prazer e a importância de uma boa viagem. Empreendi estudos com meus alunos do colégio e da universidade em cidades de São Paulo e de outros Estados. Continuo buscando conhecer o Brasil e também espero poder continuar realizando viagens para outros países, com a perspectiva de conhecer melhor os outros e, consequentemente, a nós mesmos.

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