Cientista foi o brasileiro que mais perto chegou do Nobel
O ProfessorNews rende homenagem ao cientista que é considerado um dos maiores químicos e especialistas do ecossistema brasileiro da nossa história recente: Otto Richard Gottlieb.
Nascido em Brno, na antiga Tchecoslováquia (atual República Tcheca) em 31 de agosto de 1920, Otto Gottlieb já tinha praticamente a carreira acadêmica traçada, devido à atuação profissional dos ascendentes, pois era filho e neto de cientistas químicos. Seu pai fora dono de uma fábrica de louça esmaltada na Europa, e sua mãe era brasileira, herdeira de uma exportadora de café. “Quando eles se casaram, os parentes disseram que o café havia transbordado da xícara”, disse certa vez, o cientista.
Por conta da origem semita, a família mudou-se para Inglaterra em 1936, já que crescia no Velho Continente a influência do regime Nazista. Três anos depois, os Gottlieb desembarcaram no Brasil. O pai de Otto abriu uma fábrica que produzia óleos extraídos de plantas oriundas da Amazônia, que resultava em matéria-prima para indústria de perfumaria. Otto Gottlieb trabalhou por 10 anos na fábrica familiar, onde atuou na venda dos produtos, como na manipulação das soluções químicas.
Na mesma época em que completou 21 anos e adotou a nacionalidade brasileira, Otto formou-se no curso de Química Industrial em primeiro lugar na Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fascinado pela flora brasileira, o cientista pesquisou e catalogou várias espécies de plantas e suas composições. Sua biblioteca continha um vasto acervo de 2.000 títulos da área.
Por conta de seu alto grau de conhecimento, Otto fez parte de um renomado grupo de pesquisa, o Instituto Weizmann de Ciências, de Israel. De volta ao Brasil em 1961, quando assumiu o cargo de tecnologista do Instituto de Química Agrícola (IQA), fez uma descoberta que marcou sua carreira: o uso de resíduos do pau-rosa. O cientista conhecia a planta desde a época em que atuava na fábrica da família. E, ao perceber que os resíduos extraídos poderiam ser usados em outras soluções químicas, Otto começou a aprofundar seus estudos nesse campo.
“O pau-rosa era a matéria-prima mais importante da fábrica de meu pai e foi o que marcou minha estreia na ciência. A partir daí, venho estudando as plantas da Amazônia, seus extratos brutos, as substâncias que podem ser isoladas e sua estrutura”, explicou.
Depois disso, Otto Gottlieb foi professor em diversas universidades, dentre elas: Universidade Rural do Brasil, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade de Sheffield, na Inglaterra, e Universidade de São Paulo (USP), onde se aposentou em 1990. Uma curiosidade a seu respeito ocorreu na ocasião da sua aposentadoria. Seus alunos da USP o presentearam com uma mala onde se lia: “Patrimônio da humanidade”, devido ao apelido que ganhou de Professor Itinerante.
Em 1964, chefiou a fundação do laboratório de Fitoquímica, da Universidade de Brasília (UnB). Três anos depois, fundou o laboratório de Química de Produtos Naturais no Instituto de Química da USP. Otto Gottlieb foi o brasileiro que mais chegou perto de ganhar um Prêmio Nobel, tendo sido indicado em 1998, 1999 e 2000. Chegou a publicar quase 700 artigos relativos ao tema sustentabilidade. O químico ainda foi autor das descobertas de substâncias Neolignanas, de efeito anti-inflamatório. Otto Gottlieb faleceu no Rio de Janeiro em 19 de junho de 2011.
Fontes: Canal Ciência e Revista IstoÉ (nº 1557 – 1999)