Retorno às aulas deve priorizar segurança e recuperação de conteúdos

Entrevista com a professora Bernadete Gatti, pedagoga, pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas e consultora da Unesco 

Por: Jornal da USP | Atualidades

O governo de São Paulo estima que ao menos 128 cidades devem retornar parcialmente com as atividades em escolas municipais, estaduais e particulares na próxima terça-feira (8). A reabertura é autorizada para atividades de reforço escolar, plantão de dúvidas e apoio emocional. Para comentar sobre esse quadro e como esse retorno acontecerá, o Jornal da USP no Ar recebeu hoje (4) a professora Bernadete Gatti, pedagoga, membro do conselho consultor da Cátedra de Educação Básica do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas e consultora da Unesco. 

A professora afirma que, por um bom tempo, os cuidados básicos ainda devem ser mantidos, como uso de máscaras e luvas e limpeza constante das mãos, mesmo que não tenhamos nos acostumado ainda. “Precisamos pensar também nas pessoas que convivem com os estudantes, mas que não vão à escola, as pessoas com as quais eles moram”, diz.

Muito se fala sobre o acolhimento dos alunos pelos professores, mas Bernadete reforça a necessidade de acolhimento também ao professorado. “Eles precisam desse acolhimento porque também viveram essa situação. Se queremos que educadores e gestores acolham, sejam compreensíveis, eles precisam também de atenção, também têm seus receios.”

Sobre as atividades a serem realizadas pelas escolas, Bernadete destaca a importância de se discutir a questão de recuperação de conteúdos. Ela afirma não ser possível cobrar dos alunos que tenham aprendido no mesmo ritmo, nas mesmas condições e na mesma quantidade de um trabalho pedagógico presencial. “Houve atrasos na oferta dessa educação a distância, ou quando se verificou que nem todos poderiam receber essa educação on-line. Isso gerou uma forma de aprendizado até um tanto desorganizada no início”, analisa a pedagoga. 

Esse próximo período serviria para uma recuperação de conteúdos, para um diálogo entre alunos e professores. Para Bernadete, filosofia e cultura educacionais diferentes são necessárias neste período, o que pode ser atingido por meio de muita discussão entre secretários e gestores da educação. “Acredito que este quadro se estenda para o próximo ano e, justamente por isso, teremos de olhar para o currículo e determinar o que é essencial para a educação básica, deixando para suprir essa cultura mais ampliada em um próximo momento”, completa. 

Bernadete finaliza reafirmando a necessidade de que as autoridades educacionais tenham consciência de que, em relação às avaliações nacionais, por exemplo, a cobrança deve ser diferente. “Será um momento de travessia, no qual teremos de possuir lideranças que possam nos ajudar. Que o trabalho neste período seja mais leve, mais compreensivo e ajudando na progressão dos estudantes, não pressionando para que tenham um desempenho como o de um ano normal”, explica.

Ouça a íntegra da entrevista no player.

Leia a matéria original: Jornal da USP

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