As universidades devem atender às necessidades dos menos favorecidos?

Responsabilidade social é tema no III Encontro Universia


A universidade deve desenvolver ações sociais e comunitárias em seus campi? Essa foi uma das questões debatidas na última terça-feira (28), no III Encontro de Reitores Universia. A palestra Universidade e Meio Social - Como Podemos Contribuir para o Desenvolvimento de Nossas Comunidades reuniu reitores e especialistas de Honduras, México, Espanha, Brasil e Colômbia.

Dentre as problemáticas lançadas, destaca-se o que as universidades da América Latina e do mundo fazem para oferecer a educação, a cultura e realizam ações de cooperação aos menos favorecidos e às comunidades em volta dos campi?

Sendo consenso em todo o mundo que a ausência da educação contribui para a desigualdade social e econômica, os palestrantes contaram a realidade em seus países e os programas que suas instituições oferecem às suas comunidades.

Para o reitor do Instituto Tecnológico de Monterrey, do México, David Noel Garcia, não só os governos, mas as instituições de ensino precisam apoiar o fim do analfabetismo em geral, como também pelo fim do pensamento de que o conhecimento deve ser usado como instrumento de poder por poucos indivíduos.

"As universidades têm uma dívida para com a sociedade em geral, porque trabalhamos para não só formar profissionais, mas também melhorar as condições de vida de nossos países. Somos cidadãos iguais, independentes da idade, condição financeira ou nível de conhecimento. Os estudantes e o corpo docente das universidades precisam pensar nos alicerces do conhecimento como um meio de formar vidas, gerar conhecimento e transferir conhecimento. Esse campo tridimensional só é possível se houver compromisso com a ética, com a formação de profissionais éticos. O segundo compromisso é com a participação cidadã, com os desafios da comunidade, com a cobrança por resultados e, sobretudo, comprometimento com a mudança. Já o terceiro aspecto diz respeito ao pagamento da 'hipoteca social', ou seja, permitir que o conhecimento adquirido na universidade sirva de usufruto para o meio social", disse o reitor.

Para a reitora Maria Lúcia Cavalli, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), existem várias maneiras de a universidade contribuir com a educação, cultura e ações sociais, para o crescimento de comunidades carentes.

"Eu sou de um Estado onde muitos jovens precisam trabalhar para ajudar no sustento da família e não têm tempo para irem à escola, situação que não é difícil de encontrar em outras regiões no Brasil. Além disso, há uma distância enorme entre uma instituição superior e onde os alunos moram; então, seus pais não têm condições de nos enviar seus filhos para estudarem. No Mato Grosso, há regiões que não têm cinemas, teatros, bibliotecas. O que dirá de escolas superiores? Algumas soluções poderiam ser apresentadas, como o ensino a distância e os cursos semi-presenciais. Não temos que manter o antigo modelo de que uma educação de qualidade é num quadrado fechado com o professor sendo o "centro do mundo", em volta de seus alunos. Há outras maneiras de ajudar quem não pode dedicar-se de forma integral aos estudos. Na UFMT, temos quatro projetos de apoio social, que são: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU), o Centro de Oleoquímica de Guariba e Projeto Biodiesel Guariba, Saneamento Básico para Municípios do Mato Grosso, e Formação de Professores", apontou a reitora.

A presidenta da mesa, a reitora Julieta Castellanos, da Universidade Autónoma de Honduras, comentou que sonha que um dia as universidades deixem o rótulo de entidades elitistas. Perguntada pelo Professornews se não haveria uma maneira de ajustar os horários de aulas para atender a demanda de estudantes que precisam trabalhar, a reitora mostrou-se pouco otimista.

"Um grande problema das universidades públicas é que não se pode atender a todos que a procuram. Seria necessário um grande esforço financeiro dos governos para que o estudante não precisasse parar de trabalhar para poder estudar. Esse é um tema complicado, porque 'mudar a grade de horário' não depende das universidades, mas não acredito também que a culpa seja dos governos. Mas seria quase impossível que isso pudesse acontecer agora, já que as universidades recebem milhares de estudantes de origens diferentes, realidades diferentes, situações financeiras diferentes, ou seja, seria um modo contínuo de não poder agradar a todos", afirmou.

Fotos e reportagem: Alexandre César

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