Último dia do Encontro de Reitores debateu o que se espera da carreira de professor
A manhã de terça-feira (29) foi marcada pelo debate A Universidade e os Professores – Do que os Professores Precisam? Que Professores Precisamos, no último dia do III Encontro Internacional de Reitores Universia, no Rio de Janeiro-RJ.
A discussão é mais complexa do que se imagina, pois várias questões foram postas em pauta, como vocação, perfil profissional, salários, reconhecimento, mercado profissional, prestígio e retorno por conquistas acadêmicas, além do futuro dos cursos menos procurados pelos jovens nas universidades.
A banca da palestra foi composta pela presidenta Cecilia María Vélez, reitora da Universidade Jorge Tadeo Lozano, da Colômbia; Manuel Gil Antón, do Colégio de México; Wolmir Therezio Amado, reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Marcela Mollis, Argentina, da Unesco; José Carrillo, reitor da Universidade Complutense de Madrid, na Espanha; e Gong Ke, presidente da Universidade de Nankai, na China.
“Há uma transição entre o professor universitário de ontem e o de hoje. Essas diferenças nos fazem revisar o nosso trabalho. No México de hoje, temos milhares de estudantes vindos de várias classes sociais e é necessário saber lidar com todos, conhecer suas realidades. Para se ter uma ideia, há 50 anos, apenas três estudantes em cada 100 entravam numa universidade. Posso ilustrar isso sobre mim mesmo, sou um pioneiro em minha família, o primeiro Antón a ter um diploma. Hoje, de cada 100, quase todos podem ter acesso ao ensino superior. A alta de matrículas começou uma onda desenfreada de contratações de professores e nem todos estão preparados, tanto professores como estudantes. Temos um nível básico falho, os estudantes chegam às classes superiores sem saber ler e calcular direito, o que demonstra fins de interesse político. Onde há desigualdade social, as comunidades mais pobres se preocuparão primeiro em evitar a fome, não irão buscar a educação. Infelizmente, venho de um país onde é mais importante ter ‘conhecidos’ do que conhecimento. Proponho a criação de ambientes de pesquisa, para que sejam usados durante e depois dos cursos superiores. É preciso acabar com a máxima de Bernard Shaw, que diz ‘Quem sabe, faz. E quem não sabe, ensina’”, relatou Manuel Gil Antón.
Para o professor Wolmir Therezio Amado, que também é presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), antes de tudo, é necessário mostrar vocação e amor pela profissão de professor.
“Iniciei na carreira aos 23 anos, numa sala de aula com pessoas quase da minha idade, por isso, precisava transmitir algo especial, afinal, sempre acreditei que nós professores somos seres inspiradores, por que não pensar que podemos influenciar nas escolhas dos nossos alunos, para que sejam melhores no que acreditam, que vençam na vida e não sejam esquecidos no grande anonimato do mundo? Em 2015 completarei 30 anos de docência. Olho para trás e penso o que me faltava quando comecei: experiência de vida, melhor comunicação, a pesquisa amadurecida. Mas de tudo é necessário ter vocação, amor e sentimento pelo que se faz. Hoje, aquele jovem de 23 anos estaria defasado e não serviria para o mercado. Não é fácil ser professor, é um caminho tortuoso, além da vocação é necessário ter amor, afeto, bem-querer ao ensino”, declarou.
Para o reitor da PUC-GO, é necessário que os professores continuem dedicados aos seus estudos e não contrários às mudanças acadêmicas.
“O mundo mudou, a educação mudou, nossos jovens mudaram, a ciência mudou, as novas tecnologias chegaram e precisamos nos adaptar a isso. Hoje, qualquer professor que tenha vários títulos acadêmicos e que diga algo como ‘Tenho 30 anos de experiência, sei de tudo, não preciso mais estudar, tenho gabarito completo na educação’ está fadado ao fracasso. Em nosso meio, há docentes que dão aulas, mas não realizam pesquisas, há quem goste do mundo científico e avesso às aulas, como encontramos também os que fazem ações político-sociais e comunitárias. Isso sem falar naqueles que, independente da preferência, acabam acumulando uma função de liderança, seja como um chefe de laboratório, diretor ou reitor. Por isso, as universidades hoje estão cada vez mais exigentes, procurando docentes com todas essas características, o que nos dificulta na procura por novos talentos”, relatou.
Sobre a desvalorização da profissão, Wolmir Therezio Amado acrescentou.
“Há uma desvalorização da profissão de professor entre os nossos jovens, e isso é algo preocupante, principalmente nos cursos de licenciatura. Basta ver ao final do ano quantos estudantes se formam em Matemática, Letras, Física, Biologia e Química, ou até mesmo em Medicina. E os que se formam preferem seguir na atuação da área do que ser um docente, muito por causa da recompensa financeira. Para dar um exemplo, uma cirurgia pode equivaler a um mês de salário de professor. Para mim, o MEC (Ministério da Educação) deveria criar um programa de incentivo a esses cursos, dando oportunidade a quem se interessa por essas áreas citadas. Uma boa alternativa seria dar 100% de bolsa de estudo aos estudantes do ProUni (Programa Universidade para Todos) e não menos que isso. Outra coisa que precisa melhorar é o salário dos professores dos níveis básico e médio, com remunerações que valham a pena para atuar. Lógico, não equiparando em todas as regiões do País, pois nem todos os governos têm condições de pagar o que os Estados mais ricos podem oferecer. Mas que seus ordenados não se equivalham aos dos pedreiros, pintores e empregadas domésticas, por exemplo”, finalizou.
Fotos e reportagem: Alexandre César