Entenda o mecanismo do mercado de opções

Compra e venda de opção de compra e de opção de venda: é confuso?

Masakazu Hoji (*)

À primeira vista, o mecanismo parece complexo, mas existem, basicamente, a opção de compra e a opção de venda. E, em cada uma delas, existe um comprador e um vendedor. É só isso!

Opção é um instrumento financeiro que dá a seu titular, ou comprador da opção, um direito futuro de comprar ou vender (mas não tem obrigação) um ativo ou índice representativo de um ativo, por um preço determinado em (ou até) uma data determinada. Logo, o vendedor da opção assume a obrigação de vender ou de comprar o ativo-objeto, conforme o caso, quando o comprador da opção exercer seus direitos. Em bolsas de valores, o vendedor de opção "lança" a opção e é chamado de lançador de opção.

Resumindo: o comprador de opção (de compra ou de venda) fica sempre protegido, pois adquire somente direitos e nunca as obrigações, enquanto o vendedor de opção assume riscos da variação de preços (por isso, recebe prêmio).

Existem no mercado de opções a opção de compra e a opção de venda. E, em cada uma delas, existe um comprador e um vendedor com os respectivos direitos e obrigações. No quadro a seguir, apresentamos uma breve descrição dos direitos e obrigações para o comprador e para o vendedor de opção de compra e opção de venda.


Quadro 1  Direitos e obrigações de compra e venda de opções.

Instrumento financeiro

Comprador

Vendedor (lançador)

Opção de compra

Adquire o direito de comprar determinado ativo (mas não a obrigação) durante determinado período ou na data definida, por determinado preço. O comprador da opção paga um prêmio ao vendedor/lançador da opção

Assume a obrigação de vender ao comprador da opção, determinado ativo durante determinado período ou na data definida, por determinado preço. O vendedor/lançador da opção recebe um prêmio por assumir o risco

Opção de venda

Adquire o direito de vender determinado ativo (mas não a obrigação) durante determinado período ou na data definida, por determinado preço. O comprador da opção paga um prêmio ao vendedor/lançador da opção

Assume a obrigação de comprar do comprador da opção, determinado ativo durante determinado período ou na data definida, por determinado preço. O vendedor/lançador da opção recebe um prêmio por assumir o risco

 

O mercado de opções é diferente do mercado futuro, onde as liquidações ocorrem efetivamente nas datas contratadas, pois as opções podem não ser exercidas, isto é, caso o comprador da opção não deseje exercer seus direitos, não haverá transação nenhuma.

O comprador da opção pode exercer ou não a opção, mas o vendedor (ou lançador da opção) tem, sempre, a obrigação de comprar ou vender, conforme o caso, se a opção for exercida.

Se o objetivo é fazer hedge, compra-se a opção de compra para proteger o passivo e compra-se a opção de venda para proteger o ativo. Um exemplo de como funcionam os principais instrumentos de hedge é apresentado no artigo Derivativos financeiros garantem o resultado operacional.

 

Exercício de opção

Existem dois tipos de opção: opção americana e opção europeia.

Na opção americana, a opção pode ser exercida a qualquer momento durante a vigência do contrato.

Na opção europeia, a opção pode ser exercida somente na data combinada (vencimento).

Os contratos de opção podem ser negociados em bolsas de valores ou em mercado de balcão.

 

Liquidação do contrato de opção

A liquidação do contrato de opção se dá por entrega física ou por liquidação financeira.

No caso da entrega física, entrega-se fisicamente o ativo-objeto negociado, como o boi gordo, milho, ações etc.

No caso de liquidação financeira, o acerto financeiro se dá pela diferença entre o preço de exercício (strike price) e a cotação de mercado do ativo-objeto no futuro.

Por exemplo, com hipóteses do Quadro 2, se um ativo é negociado com preço de exercício de R$ 10 e o preço a vista no futuro for R$ 12, o comprador da opção receberá R$ 2, que é a diferença entre o preço de exercício e o preço a vista no futuro, e assim por diante. Com o preço futuro abaixo de R$ 10, o comprador (que tem o direito), não exercerá a opção de compra. No caso de opção de venda, se o preço futuro for R$ 8, o comprador exercerá a opção e receberá a diferença em relação ao preço de exercício de R$ 10, e assim por diante. Acima de R$ 10, não haverá interesse de o comprador exercer a opção de venda. Em qualquer situação, o preço futuro de R$ 10, que é o mesmo do preço de exercício, é o "ponto de indiferença". 


Quadro 2  Exemplo de liquidação financeira de opções com preço de exercício de R$ 10. 

Hipóteses de preço a vista no futuro

6

8

10

12

14

Opção de compra: valor a receber

0

0

0

2

4

Opção de venda: valor a receber

4

2

0

0

0


Exemplos de opções negociadas na BM&FBovespa

Veja exemplos de opções negociadas no segmento BM&F da BM&FBovespa, no quadro seguinte.


Quadro 3  Exemplos de opções negociadas na BM&FBovespa.

Código

Descrição

BGI

Opção sobre Futuro de Boi Gordo

CNI

Opção sobre Futuro de Milho (entrega física)

CCM

Opção sobre Futuro de Milho (liquidação financeira)

ICF

Opção sobre Futuro de Café Arábica

SOJ

Opção sobre Futuro de Soja

DOL

Opção sobre Dólar Comercial

DLA

Opção sobre Dólar com Ajuste

D11

Opção sobre DI de 1 dia tipo 1

D12

Opção sobre DI de 1 dia tipo 2

D13

Opção sobre DI de 1 dia tipo 3

D14

Opção sobre DI de 1 dia tipo 4

INE

Opção sobre Futuro do Ibovespa

VTC

Volatilidade de Dólar

VF1

Volatilidade de Juros Tipo 1

VF2

Volatilidade de Juros Tipo 2

VF3

Volatilidade de Juros Tipo 3

VF4

Volatilidade de Juros Tipo 4

VID

Volatilidade Índice IDI

VOE

Volatilidade Ibovespa

Fonte: BM&FBovespa.

 

Exemplos práticos

Suponha as seguintes cotações de dólar:

  - 28 de fevereiro:  R$ 2,15/dólar

  - 20 de março:  R$ 2,28/dólar

  - 25 de março:  R$ 2,40/dólar

  - 14 de abril:  R$ 2,20/dólar

  - 28 de abril:  R$ 2,35 dólar

  - 16 de maio:  R$ 2,18/dólar

 

EXEMPLO COM OPÇÃO DE COMPRA

Um investidor compra uma opção de compra de dólar em 20 de fevereiro, com preço de exercício de R$ 2,20 e vencimento em 16 de maio.

O comprador da opção tem o direito de "comprar" o dólar a R$ 2,20 (preço de exercício) e, por esse direito, paga um prêmio ao vendedor da opção (ou lançador da opção em bolsa de valores), que assume o risco de desvalorização do câmbio.

Se o instrumento negociado for uma opção europeia, a opção "não será exercida", pois no vencimento do contrato, o dólar estará valendo R$ 2,18 no mercado e o comprador da opção não comprará por um preço acima do que vale (pagando R$ 2,20).

Se o instrumento negociado for uma opção americana, o comprador da opção poderá exercer a opção em qualquer dia durante a vigência do contrato (até 16 de maio). Logo, poderá "comprar" o dólar (uma só vez) a R$ 2,28, R$ 2,40 ou R$ 2,35, respectivamente, em 20 de março, 25 de março ou 28 de abril. A R$ 2,20 ou abaixo desse preço não interessará exercer a opção, pois não haverá vantagem financeira para o comprador da opção de compra de comprar a R$ 2,20, preço igual ou acima da cotação de mercado.


EXEMPLO COM OPÇÃO DE VENDA

Um exportador compra uma opção de venda de dólar com preço de exercício de R$ 2,20 em 20 de fevereiro, com vencimento em 16 de maio.

O comprador da opção tem o direito de "vender" o dólar a R$ 2,20 (preço de exercício) e, por esse direito, paga um prêmio ao vendedor da opção (ou lançador da opção em bolsa de valores), que assume o risco de "valorização" do câmbio.

Se o instrumento negociado for uma opção europeia, a opção "será exercida" no vencimento do contrato, pois o dólar estará valendo R$ 2,18 no mercado e o comprador da opção de venda venderá por um preço acima do que vale, de R$ 2,20.

Se o instrumento negociado for uma opção americana, o comprador da opção poderá exercer a opção em qualquer dia durante a vigência do contrato (até 16 de maio). Logo, poderá "vender" o dólar (uma só vez) em 28 de fevereiro ou 16 de maio, a R$ 2,20 (preço de exercício contratado), acima da cotação de mercado dessas datas. Caso não exerça (uma única vez) a opção de venda em uma dessas datas, dentro das regras estabelecidas, não será interessante fazê-lo em qualquer outra data, pois não haverá vantagem financeira.

Com a cotação a R$ 2,20 ou acima desse preço, não interessará exercer a opção de venda, pois caso exercer, terá que vender a R$ 2,20, um preço igual ou abaixo da cotação de mercado. Caso o comprador da opção de venda não disponha do dólar, ele terá que comprar no mercado a R$ 2,20 ou acima desse preço para vender a R$ 2,20.


(*) Masakazu Hoji é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

 

 

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