Neste momento oportuno, dois ilustres professores de economia internacional escreveram, com a ajuda de outros especialistas, um livro que analisa e explica os blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul.
A Equipe Professornews conversou com os professores Silvio Miyazaki (*) e Antonio Carlos Alves dos Santos (**) sobre a posição do Brasil no cenário econômico mundial.
Professornews. Mesmo apresentando graves problemas econômicos entre os países-membros, como é o caso da Grécia, Portugal e Espanha, a União Europeia está aumentando o número de seus participantes, com países que pertenciam à extinta União Soviética. Em sua opinião de economista internacional, esse é um processo irreversível?
Professor Alves dos Santos. Sim, é um processo irreversível, porque ele é essencialmente um projeto político pensado para evitar a repetição de tragédias europeias do Século XX. Por ser um projeto político, medidas econômicas necessárias acabaram sendo deixadas em segundo plano e países com conhecidas fragilidades econômicas, como é o caso da Grécia e Portugal, acabaram sendo aceitos na Zona do Euro. Infelizmente, o custo econômico de excluí-los é muito alto para eles e para os demais países da Zona do Euro.
Professornews. Por que o Mercosul, do qual o Brasil é um dos países-membros mais importantes, não está dando certo? O que precisaria ser feito para deslanchar a economia desse bloco econômico?
Professor Alves dos Santos. O projeto do Mercosul era muito ambicioso e por isso os resultados alcançados estão bem abaixo do esperado; no entanto, estão longe de serem desprezíveis, se lembrarmos dos ganhos no comércio interno do bloco. A política argentina é hoje o maior empecilho ao Mercosul, por impedir negociações de acordos de livre comércio como é o caso do acordo com a União Europeia. Sem uma solução para esse problema, o Mercosul corre o risco de tornar-se um estorvo à inserção internacional da economia brasileira.
Professornews. Os blocos econômicos do Sudeste Asiático não são muito conhecidos de nós brasileiros. Isso é porque cada um dos países, como o Japão, Coreia do Sul e China, não precisam de alianças comerciais e econômicas entre eles? Ou seriam em função de divergências entre seus povos?
Professor Miyazaki. Creio que os brasileiros em geral ainda não perceberam o potencial econômico do Sudeste Asiático. Sobre o Japão, Coreia do Sul e China, na verdade, há conversações entre esses países para firmar um acordo comercial entre os três, assim como um mais amplo, incluindo as dez nações do Sudeste Asiático.
Professornews. É possível o Brasil partir da NAFTA (North American Free Trade Agreement - Tratado de Livre Comércio da América do Norte), do qual o Chile, que fica no extremo sul do nosso continente, participa como associado? Nesse caso, o que o Brasil ganharia?
Professor Miyazaki. Será difícil o Brasil associar-se à NAFTA, principalmente por questões político-ideológicas do atual governo ou mesmo do Itamaraty. O Chile tem sido um dos países mais dinâmicos em firmar acordos de livre comércio, mas é preciso lembrar que há bastante dependência do cobre nas suas exportações.
Professornews. O euro é a moeda corrente em todos os países-membros da Zona do Euro (União Europeia, exceto o Reino Unido). Para ocorrer essa padronização de moedas também no Mercosul, o que seria necessário?
Professor Alves dos Santos. O Mercosul ainda é, no máximo, uma União Aduaneira imperfeita e, por isso, é prematuro falar em moeda comum para o bloco. Para não repetir os mesmos erros da experiência europeia, é necessário melhor a coordenação macroeconômica entre os países-membros do bloco e isso, no momento, não é viável econômica ou politicamente. É necessário repensar o projeto do Mercosul e trabalhar com metas mais realistas.
Professornews. Ouve-se falar que a China caminha ao lado dos Estados Unidos como a maior economia do mundo. Para um país com economia tão forte, como se explica que na maior parte do território chinês encontram-se problemas comuns de países não desenvolvidos, como: miséria, alto número de analfabetos, falta de saneamento básico, estradas precárias?
Professor Miyazaki. Deve-se analisar com cuidado, ao comparar economias. Assim, é preciso verificar não somente em termos do PIB, mas também o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano. A China é um país que precisa ser melhor estudado aqui, pois somente são destacados os pontos positivos de crescimento econômico e do tamanho da sua economia. O crescimento da economia não se difundiu para as áreas remotas, e a sua população é a maior do planeta e talvez tenha tido até uma concentração da renda no país.
Professornews. Nas últimas duas décadas, o Brasil gozou de certa estabilidade econômica. O senhor acredita que, um dia, o País poderá chegar a disputar ombro a ombro com as principais potências econômicas o controle financeiro mundial?
Professor Alves dos Santos. Acho pouco provável, já que a concorrência por um lugar ao sol nas relações econômicas internacionais é muito forte. O Brasil poderá, no melhor cenário, exercer influência crescente, mas dentro dos limites impostos a um país que é parte do quintal dos Estados Unidos
O Professor Alves dos Santos completa a entrevista com seus conhecimentos sobre a África: "A África é um continente que oferece grandes oportunidades no campo econômico e político ao Brasil. As empresas brasileiras têm adotado práticas que são bem aceitas pelas comunidades locais, como, por exemplo, a contratação, sempre que possível, da mão de obra local. O Governo brasileiro tem adotado políticas visando aumentar as parceiras com países africanos, mas, infelizmente, o volume de recursos disponíveis ainda é insuficiente, o que torna difícil competir com China, que é um dos mais importantes players no continente africano. Dado que a África é a última fronteira e que tem apresentado ótimas taxas de crescimento econômico nos últimos anos, deverá continuar a atrair atenção das principais potências econômicas, principalmente da China".
(*) Silvio Yoshiro Mizuguchi Miyazaki é professor da Universidade de São Paulo (USP). É doutor em Economia e mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV -SP) e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) e em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).
(**) Antonio Carlos Alves dos Santos é professor da PUC-SP. É doutor e mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Os Professores Silvio Miyazaki e Antonio Carlos Alves dos Santos são autores e organizadores do livro Integração Econômica Regional publicado pela Editora Saraiva. Conheça a sinopse dessa obra acadêmica na Biblioteca do Professornews.
Conheça outros autores do livro.
Cristina Helena Pinto de Mello é Professora da PUC-SP, ESPM e IICS.
Leonardo Baptista Correia é Professor da PUC-SP.
Luiz Moraes de Niemeyer é Professor da PUC-SP e Facamp.
Maria Antonieta Del Tedesco Lins é Professora da USP.
Mayla Pereira Costa possui formação em diplomacia corporativa pela FAAP.
Paulo Fernandes Baia é Professor da PUC-SP.
Sérgio Goldbaum é Professor da FGV e ESPM.
Victor Nóbrega Luccas é bacharel em Direito pela FGV e mestrando em Direito pela USP.