Segunda, 24 Fevereiro 2014 13:43

Sobre uma suposta bolha imobiliária no Brasil

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As características dos mercados brasileiro e americano são diferentes, segundo o economista

José Braga (*)

Jose Braga UnisalHá algum tempo, ou desde o aquecimento do mercado imobiliário brasileiro, a maioria dos céticos comentaristas econômicos vem afirmando que o Brasil viveria uma bolha imobiliária, aos moldes do que vivera a economia norte-americana. Essa suposição se justificaria pelo fato de o mercado imobiliário brasileiro estar aquecido, com valorização excessiva dos imóveis e um alto índice de endividamento das famílias. Características aparentemente semelhantes às da economia norte-americana quando do estouro da sua bolha imobiliária. Acontece, porém, que quando analisadas as causas desta aparente similaridade, percebemos que elas são distintas, produzindo, portanto, realidades também distintas e que, por consequência, não podem provocar resultados semelhantes. Explico.

O território norte-americano é um importante celeiro do desenvolvimento do capital financeiro e de suas racionalidades liberalizantes. Racionalidades que vem desregulamentando mercados com o propósito de facilitar a movimentação e a reprodução ampliada do capital. Em meio a essa desregulamentação neoliberal e o aquecimento do mercado imobiliário norte-americano, o capital financeiro inovou nas formas de se relacionar com as famílias e se valorizar.

Uma primeira inovação que impulsionou os mercados imobiliário e financeiro foi a securitização, ou a possibilidade de emissão de títulos lastreados em hipotecas imobiliárias. Tais títulos – subprime – atraíram os investidores, seja por causa dos rendimentos relativamente altos – pela valorização dos imóveis em um ambiente de juros baixos –, seja pela percepção amplamente difundida de seu baixo risco devido às garantias governamentais implícitas.

Outra importante inovação foi a possibilidades de refinanciamento de hipotecas, ou a possibilidade de substituir hipotecas antes do seu vencimento por outras, portando taxas de juros menores e acrescidas, ou correspondentes ao novo valor do imóvel. Na mesma perspectiva, outra inovação foi a possibilidade de se contrair novos empréstimos correspondente à valorização do imóvel, ou uma espécie de segunda hipoteca, mas que podia ser usada para gastos de qualquer natureza. Ou seja, na medida em que o imóvel se valorizava, seu proprietário contraria novas dívidas, tendo a valorização do imóvel como garantia do empréstimo. Novos endividamentos que lastreavam novos títulos e que retroalimentavam a valorização dos imóveis, transformando-se em uma bolha financeira especulativa lastrada no endividamento privado.

Felizmente, essa liberalidade no mercado financeiro não chegou ao Brasil. Aqui, o aquecimento do mercado imobiliário tem outro lastro. Dados recentes do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que de 2007 a 2012, 5,24 milhões de moradias foram adquiridas. Diminuindo o déficit, no mesmo período, de 10% para 8,53%. Essa realidade não seria alcançada sem o endividamento das famílias. Ou seja, o aquecimento do mercado imobiliário e o endividamento das famílias brasileiras originam-se no atendimento de uma demanda reprimida, não especulativa, e que é possibilitada pelo aquecimento da economia e o aumento do emprego. Com isso, a única possibilidade de o nosso mercado imobiliário entrar em colapso é se a economia entrar em colapso. Ou seja, aqui, ao contrário do que afirmam os céticos, qualquer crise imobiliária seria consequência de uma crise maior, ou não vivemos uma bolha especulativa imobiliária.

 

(*) Prof. José Braga é Economista, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo e Mestre em Ciências Política. Leciona nos Cursos de Direito, Contabilidade, Engenharia Ambiental, Engenharia da Produção e no Serviço Social do UNISAL Americana.

 

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