Domingo, 31 Julho 2011 09:21

O Big Mac pode ser considerado indicador econômico?

By
Rate this item
(0 votes)

Professor Fernando Arbache

 
                A lanchonete McDonald's existe em mais de 120 países somando, aproximadamente, 30.000 lojas ao redor do mundo. São quase 50 milhões de clientes atendidos a cada dia.
Estar nas principais economias do planeta, oferecendo exatamente o mesmo produto, permitiu com que o periódico britânico, The Economist, criasse um indicador denominado “Big Mac Index”.
O Big Mac Index é um método informal, que tem por objetivo mensurar o Purchasing Power Parity (PPP), que é o Paridade de Poder Aquisitivo, entre as moedas dos países, avaliando o equilíbrio dos preços dos bens em todo o globo.
O Big Mac Index funciona da seguinte maneira: se um Big Mac custar 3 dólares em um país e 3 euros em outro, então 1 euro tem valor equivalente a 1 dólar, no que se refere na capacidade de compra de uma moeda.
A premissa esperada na análise do preço do Big Mac é baseado no seguinte argumento, como o sanduiche é produzido com os mesmos ingredientes em todo o mundo, não existindo nenhum item especial que encareça o sanduíche nacionalmente, quando transformado em dólar, em teoria, o valor deveria ser o mesmo em todo o mundo.
Ao converter o sanduiche da moeda nacional para dólar de diversos países temos o seguinte resultado:
 
1- Noruega - US$ 7,20
2- Suécia - US$ 6,56
3- Suíça - US$ 6,19
4- Brasil - US$ 4,91
5- Dinamarca - US$ 4,90
6- Colômbia - US$ 4,39
7- Zona do Euro - US$ 4,33
8- Canadá - US$ 4,00
9- Turquia - US$ 3,89
10- Israel - US$ 3,86
 
O resultado mostra a distorção do preço do Big Mac no mundo, porém o mais interessante é que, ao avaliar o preço no Brasil, o mesmo é o quarto mais caro do mundo.
Avaliando todos os países que estão nos 10 preços mais caros do mundo, podemos chegar a seguinte inconsistência. Sendo o Brasil o maior produtor de carne do mundo e um dos maiores celeiros agrícolas do planeta, qual o motivo para que o Big Mac brasileiro tenha preços semelhantes a países que tem em seu território deserto ou escarpas, tendo o custo de produção agrícola absolutamente gigantesco se comparado ao Brasil?
Podemos citar como exemplo Israel, que tem suas produção agrícola em kibutz, com restrição de água, território, solo pouco fértil e grandes problemas geopolítico, porém com o preço do sanduiche valendo 80% do valor do sanduiche brasileiro, ou seja, mais acessível.
Os tributos certamente são um dos motivos que podem levar ao alto custo do Big Mac, e coincidentemente, todos os países da lista tem altos tributos.
Apenas para que possamos avaliar como os dez países gastam os tributos recolhidos, analisemos o ranking da OMS (Organização Mundial da Saúde) que avalia a qualidade da saúde pública oferecida aos seus cidadãos. O Brasil ficou em 125º lugar no ranking mundial entre 191 países atrás da Bósnia, Líbano igualando-se ao Egito. A Noruega ficou em 11º, Suíça em 20º, Suécia em 23º e o país pior classificado, da lista dos Big Mac mais caros do mundo, excluindo o Brasil foi a Turquia que ficou em 70º lugar.
Os custos tributários, portanto podem responder por parte do alto valor cobrado pelo Big Mac no Brasil, porém não é apenas este elemento que aumenta os custos de produção do Mcdonalds.
Os custos de produção agrícola no Brasil é extremamente alto, se levarmos em consideração os baixos custos de mão de obra existente no campo.
Vamos considerar a soja como um exemplo a ser analisado. O custo médio de produção, em dólar por tonelada, na fazenda da soja é de US$ 274.00. Nos Estados Unidos, onde a mão de obra chega a ser mais de 1000% maior que do Brasil é de US$ 311.00, ou seja, 88% do preço norte americano.
O valor da tonelada de soja no porto, ou seja, após sair da fazenda e ser movimentado até o navio, passa no Brasil para US$ 394.00. Nos Estados Unidos, a soja no porto passa a valer US$ 341.00, ou seja, a soja brasileira passa a ser mais cara que a norte americana, passando a valer 15,5% a mais. O custo de movimentação da soja, do campo até o porto, é de 120% do valor do produto quando colhido no Brasil, enquanto a logística norte americana equivale a 9,6% do custo na fazenda.
O BigMac é um bom indicador econômico, pois ele pode nos dar uma percepção dos problemas que temos em relação a nossa economia.
A economia brasileira, apesar de pujante, está carente de uma reforma estrutural e necessitando de investimento em infraestrutura, desoneração dos tributos e custos trabalhistas.
Enquanto nosso governo não compreender a urgência e necessidade destas mudanças, estaremos pagando nosso BigMac com o mesmo valor que os dinamarqueses, sem, no entanto, termos os benefícios sociais que este povo europeu recebe de seu país.
 
Read 3255 times Last modified on Sábado, 15 Junho 2013 13:18

Leave a comment

Make sure you enter all the required information, indicated by an asterisk (*). HTML code is not allowed.