Canto da Chuva (iv): mendigo ensina estudantes de Harvard

Este é o cantinho para sair da rotina

canto-da-chuva201201092A edição do Canto da Chuva desta semana traz uma película que dá uma grande lição de vida; um filme em que o amor serve de desculpa para quebrar regras de ética e moral na ciência; dica de um livro que traz expressões e significados do mundo empresarial, uma poesia de Bertold Brecht e uma piada para descontrair seu dia.


CLAQUETE: Com Mérito (With Honors – Estados Unidos, 1994)

Deliciosa comédia que traz grandes lições de vida. Com Mérito traz um elenco recheado de astros, a começar pelo versátil Joe Pesci, Brendan Fraser, Moira Kelly, Patrick Dempsey, Josh Hamilton e Gore Vidal. Em Harvard, Monty (Fraser) está prestes a se formar. Ao ter seu computador danificado, Monty apressa-se para tirar uma cópia de seu projeto de monografia, já que possui apenas as originais. No caminho, tropeça e deixa cair os papéis num porão, onde reside o mendigo Simon (Pesci) que apodera-se do trabalho e passa a chantagear o estudante, com a seguinte reivindicação: para cada página, um dia de casa e comida. Sem alternativa, Monty o instala na república de estudantes, onde nasce uma grande amizade entre o mendigo e os moradores da casa. Simon está doente e teme morrer em pouco tempo e, por conta disso, passa a relembrar o passado e rever os enganos de sua vida. Mesmo não sendo letrado em nada do mundo acadêmico, o mendigo é capaz de oferecer uma lição de vida a esses estudantes de Harvard. Uma de suas frases famosas é: “Eu sou um mendigo. Mas... Eu sou um mendigo em Harvard...”. Com Mérito tem o roteiro assinado por Glenn Gordon Caron, Israel Horovitz, William Mastrosimone e Rafael Yglesias. A direção é de Alek Keshishian.


EM CARTAZ: A Pele que Habito (La Piel que Habito – Espanha, 2011)

Filme do renomado diretor e roteirista espanhol Pedro Almodóvar, que mais uma vez atua com Antonio Banderas. O filme trata de uma grande discussão de ética e moral na ciência. Atordoado pela morte da esposa num acidente de carro, o cirurgião plástico Richard Ledgard (Banderas) passa anos trabalhando num projeto que, segundo ele, poderia ter salvo sua mulher. Após 12 anos em seu laboratório, o médico consegue produzir uma pele sensível ao toque, mas ao mesmo tempo resistente a qualquer agressão. No entanto, o processo acaba por transgredir barreiras da transgênese humana. O médico precisa de uma cobaia humana para tentar seu experimento, e sua obsessão pelos resultados acabam por corrompê-lo. Almodóvar dirige e co-roteiriza com Agustín Amodóvar. A obra é baseada no livro de Thierry Jonquet. Para ver onde o filme está sendo exibido na sua região, acesse o site Guia da Semana.


PAPIRO: Dicionário de Termos de Negócios

A dica de livros desta semana é Dicionário de Termos de Negócios, de Lenke Peres, (Editora Saraiva, 848 p.). Desenvolvido para ser uma ferramenta prática e acessível, esse dicionário pode ser utilizado por profissionais, estudantes e todos os interessados em conhecer um pouco mais da terminologia utilizada no mundo dos negócios. Além disso, possui características que o torna mais útil: apresenta equivalentes de expressões em inglês e português, aprofundando-se nos conceitos sempre que necessário. Todos os termos são de fácil localização, traz uma lista geral com abreviaturas de contextualização em inglês e português e apresenta acrônimos e abreviaturas acompanhados pelo verbete nas duas línguas.


UM MOMENTO DE CULTURA: Se os Tubarões Fossem Homens

Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas sempre tivessem água renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não morressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres têm gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente, também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo, a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando estes dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo, os peixinhos deveriam guardar-se de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles, naturalmente, fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre eles e os peixinhos de outros tubarões, existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo por isso, impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua de peixinhos silenciosos seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles, naturalmente, também uma arte; haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas goelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as goelas dos tubarões. A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as goelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos; alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores; isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

Poesia do escritor alemão Bertold Brecht (1898-1956). Se os Tubarões Fossem Homens foi declamada magistralmente pelo apresentador Antônio Abujamra, da TV Cultura, no programa Provocações. Uma dica do Professornews é ler a poesia enquanto escuta a narração.


PIADAS E ANEDOTAS:

Dois professores se encontram na Floresta Amazônica para estudos científicos. Conforme a noite cai, os docentes se perdem e não conseguem encontrar a trilha que os levaria de volta ao acampamento. De repente, escutam o rugido de uma onça-pintada. Mais que depressa, o primeiro tira suas botas e calça seus tênis. Eis que o seu colega retruca:

- Você acredita mesmo que poderá correr mais do que uma onça-pintada?

Ao que o primeiro professor responde:

- Não, mas com certeza, correrei mais do que você.

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