Limite de crédito e transferência de riscos: poderosa ferramenta do mercado de crédito

Derivativo de crédito é um dos instrumentos financeiros utilizados para restabelecer o limite de crédito

Prof. Masakazu Hoji

Os bancos concedem limites de crédito para pessoas físicas ou jurídicas para que estas possam tomar empréstimos bancários. As empresas também concedem limites de crédito para que seus clientes possam comprar a prazo. Os limites concedidos pelas empresas de cartão de crédito também têm as mesmas finalidades.


Como funciona o cheque especial

O cheque especial é uma das modalidades de empréstimos mais comuns no mercado financeiro. O banco concede "limite" para que seu cliente correntista possa sacar dinheiro mesmo sem tê-lo. Na realidade, o saldo de conta bancária (popular "conta corrente") não fica "negativo", como faz crer o extrato de conta corrente. É só uma forma de apresentação.

Respeitando o limite de crédito pré-autorizado pelo banco, o correntista saca "a descoberto" e a parte "negativa" do saldo em conta corrente, na realidade, é um empréstimo que o banco está concedendo.

 

O que é limite de crédito

O limite de crédito é um valor pré-aprovado para facilitar a concessão de crédito ou empréstimo em dinheiro.

O limite de cheque especial ou de cartão de crédito são exemplos corriqueiros para pessoas físicas.

Para empresas em geral, o limite de crédito é muito importante para captar recursos financeiros ou comprar mercadorias a prazo. Para concessão do limite de crédito, são analisadas as situações e os históricos dos comportamentos da empresa (ou da pessoa física), para avaliar o grau de risco de inadimplência.

Aspectos como: caráter, capacidade de pagamento, capital/patrimônio, garantias, condições e cenários econômicos são avaliados para a determinação do limite de crédito (quantia máxima de risco envolvido), pois para o emprestador ou financiador, o crédito concedido gera risco de inadimplência em menor ou maior grau  (HOJI, Masakazu. Administração financeira e orçamentária. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2014).


Eliminação de riscos em um balanço patrimonial

Pelas explicações acima, pode-se traduzir como "riscos de crédito" os ativos de uma empresa a receber de terceiros, representados por contas como: duplicatas a receber, empréstimos concedidos e valores a receber em geral, pois caso a empresa não receba, esses ativos se transformarão em "prejuízos".

Para instituições financeiras, os empréstimos concedidos representam riscos de crédito, em seus diversos graus, dependendo da classificação de risco do cliente. Existem diversas formas de eliminar ou reduzir esses riscos, e uma delas é a transferência de riscos para outra instituição financeira por meio de instrumento financeiro conhecido como derivativo de crédito.

Nas figuras a seguir apresentadas, você pode acompanhar passo a passo o processo de transferência de riscos.

Situação 1: limite de crédito utilizado

transf risco - situaçao 1


O Cliente A tem R$ 100.000 de empréstimo tomado do Banco X, que havia concedido limite de crédito de R$ 100.000. Logo, foi utilizado todo o limite desse banco.

No balanço patrimonial de cada uma das partes, existem o ativo e o passivo correspondentes (Transação 1, circulado).


Situação 2: limite de crédito ativo, mas sem recursos no banco

transf risco - situaçao 2


O Cliente A precisa de mais R$ 80.000, mas não consegue tomar empréstimo no Banco Z, onde tem limite de crédito, pois esse banco não possui os recursos com as características que o Cliente A precisa.

Uma das soluções é o derivativo de crédito.

O Banco X, por meio de derivativo de crédito, transfere o "risco" correspondente ao ativo (empréstimo concedido), no valor de R$ 100.000 para o Banco Z. O Banco Z não possui os recursos, mas pode assumir o risco representado pelo Cliente A, utilizando o limite de crédito previamente concedido (Transação 2, circulado em vermelho).

Transferindo o risco (mas mantendo o ativo em sua carteira), o Banco X restabeleceu o limite de crédito no valor de R$ 100.000.

Observe que o Banco Z assumiu o risco do Cliente A, mas não o ativo, que permanece na carteira de empréstimos do Banco X.


Situação 3: novo empréstimo com limite restabelecido

transf risco - situaçao 3


O Banco X, mesmo mantendo em seu ativo o empréstimo concedido ao Cliente A, não tem o risco de não recebê-lo no vencimento, pois caso esse cliente não pague a dívida, receberá o valor de R$ 100.000 do Banco Z. 

Assim, com o limite de R$ 100.000 restabelecido para o Cliente A, o Banco X pode conceder novo empréstimo para o cliente, nesse caso, no valor de R$ 80.000 (Transação 3). Caso o cliente queira tomar mais R$ 20.000 de empréstimo, nova transação poderá ser realizada.

Observe que, no Banco Z, fica contabilizado somente o risco de crédito de R$ 100.000. No ativo e passivo do Cliente A e do Banco X, respectivamente, constam o valor de R$ 180.000, que é o valor total "em dinheiro" efetivamente transacionado.

O risco efetivo das transações apresentadas é de R$ 180.000, dividido entre o Banco Z (com R$ 100.000) e Banco X (com R$ 80.000). O saldo de R$ 20.000 de limite de crédito do Banco X ainda não está efetivado, pois o banco tem a possibilidade de negar a concessão de empréstimo adicional, caso necessário.

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