Primeira travesti a fazer doutorado no Brasil defende tese sobre discriminação

Luma inspirou-se em fatos de sua vida para defender sua tese em Fortaleza

estudo cadernoDiscriminada desde a infância, na escola e, depois, no trabalho, a primeira travesti a fazer doutorado no Brasil, Luma Andrade, deverá defender sua tese em Educação, na Universidade Federal do Ceará (UFC), em julho. A inspiração para o projeto de estudo, que relata a discriminação de pessoas como ela na rede pública de ensino, partiu de suas próprias experiências, quando era apenas uma estudante nos ensino básico e médio de Fortaleza.

Hoje, Luma, que oficialmente é obrigada a assinar o nome de batismo: João, é supervisora regional de 26 escolas públicas no Ceará. A tese conta com 400 páginas e, além de abordar a discriminação, ela pôs em xeque a formação de alguns professores e profissionais da educação que são obrigados a lidarem com indivíduos que são homossexuais nas escolas. Em seu trabalho acadêmico, Luma contou um exemplo sobre isso.

“Uma diretora de escola fez uma lista de alunos que, para ela, eram homossexuais. E aí mandou chamar os pais, pedindo para que eles tomassem providências”. De acordo com ela, a providência foi “muita surra”. “O primeiro que foi espancado me procurou”, disse. Depois disso, Luma foi à escola e conversou com professores e administradores, que, depois, passaram por uma capacitação de como lidar com a sexualidade dos alunos. Segundo sua pesquisa, o caso da diretora que recomendou a surra aos pais, é um exemplo comum em outros casos. “Comecei o levantamento das travestis nas escolas públicas. Eu pedia para que os gestores informassem. Quando ia averiguar a existência real do travesti, os diretores diziam: ‘tem aquele ali, mas não é assumido’. Percebi que estavam falando de gays”, observou.

Mestra desde 2003, Luma contou que, mesmo concursada no Estado para dar aulas de Biologia, foi recusada na hora da posse e, segundo ela, foi discriminada porque havia feito um implante de silicone. “Eu não era tida como um bom exemplo. Uma coordenadora denunciou que eu estava mostrando os seios para os alunos na aula. Eu já previa isso e passei a usar bata para me proteger, esconder. Eu tinha certeza que isso ia acontecer”, lembrou.

Para ela, os cursos de graduação em licenciatura deveriam formar profissionais que saibam lidar com a sexualidade dos estudantes. “Cada pessoa tem uma forma de viver. Conforme ela se apresenta, vai se comunicar e interagir. O gay tem uma forma de interagir diferente de uma travesti ou de uma transexual. O não reconhecimento dessas singularidades provoca uma padronização", encerrou.

Fonte: Último Segundo

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