Na segunda entrevista da semana que comemora o Dia do Professor, quem dá o recado é o Prof. Eduardo Sabbag.
O advogado Eduardo Sabbag dedica grande parte de sua vida ao ensino, dividindo seus afazeres na área jurídica com aulas de Língua Portuguesa e Direito Tributário em disciplinas preparatórias para concursos. Atualmente, leciona, em média, seis a sete horas por dia, seis dias por semana. Já foram mais de 15 mil horas-aula, para mais de 100 mil alunos em todo o Brasil. Para aguentar esse ritmo acelerado, costuma dizer: “Ser ‘profissional-professor’, muitos conseguem; ser ‘professor-profissional’, poucos”. Sabbag chegou a pedir exoneração do cargo público de Analista da Receita Federal do Brasil, devido ao alto volume de aulas e convites para palestras em todo Brasil.
Em entrevista para o Portal Professornews, o “professor-advogado” Dr. Eduardo Sabbag conta um pouco dessa sua vida.
Professornews - O senhor é advogado, mas se dedica à carreira acadêmica. Como tem sido a sua experiência como docente?
A experiência como docente sempre foi, para mim, um “relaxamento”, embora a atividade seja reconhecidamente penosa. Trabalho em um sistema de ensino telepresencial, no qual as aulas são transmitidas via satélite, ao vivo, para todo o Brasil. Posso dar aula para 100 alunos num período, e para 10 mil alunos em outro. O que me dá o prazer de ser reconhecido em muitos lugares. Isso vale até como piada em sala: desde uma ilha deserta no nordeste, passando por uma rua de pouco movimento em Buenos Aires, até um local com centenas de pessoas. É o que me estimula e me faz continuar.
PN - Como um professor pode destacar o seu diferencial?
Inicialmente, o professor precisa descobrir qual é a sua principal característica: se é o profundo conhecimento da matéria, se é aquele que domina a técnica de transmitir o conhecimento, se é o professor que consegue ter grande interação com os alunos etc. Isso poderá ajudá-lo na escolha dos caminhos na carreira docente.
PN - Quais mudanças significativas vêm acontecendo na educação brasileira atualmente?
A principal delas é o dinamismo que a tecnologia trouxe para a sala de aula. Eu, por exemplo, ministro uma aula aqui em São Paulo, Capital, em um pequeno estúdio, e essa aula é transmitida ao vivo para mais de 400 unidades em todo o Brasil. Algumas turmas chegam a ter mais de 10.000 alunos. É espantoso! A internet também tem exercido papel importante, com os seus recursos e inovações.
PN - Como o senhor vê a educação no futuro próximo?
O futuro pertence à Internet, que irá acrescentar muito ao ensino nos próximos anos, tendo um papel mais relevante do que o atual. Certamente, em algum tempo, teremos toda a estrutura para que o aluno assista à aula, participe, pergunte e interaja com os colegas sem sair de casa, tendo o mesmo aproveitamento de quem está em uma sala de aula ao lado do professor. Na realidade, o sistema já existe, mas a estrutura de banda larga no Brasil é, em regra, insuficiente, com exceção de algumas poucas regiões. Viajo sempre a regiões longínquas no Brasil e vejo como ainda temos que avançar na banda larga... Há centenas de cidades brasileiras em que a velocidade na internet não existe. É inacreditável...
PN - Quais as dificuldades e as vantagens (prós e contras) em ser professor atualmente no Brasil?
Infelizmente, a situação para a maioria dos professores no Brasil está longe de ser adequada. A precariedade é generalizada: escolas abandonadas, materiais insuficientes, recursos pedagógicos antiquados, professores sem comprometimento, péssimos salários – tudo isso, especialmente na escola pública, onde, aliás, estudei em toda a minha vida e sei bem o que é. Entretanto, pude ainda pegar os derradeiros anos de qualidade no ensino público.
Nas instituições privadas, o quadro melhora um pouco, mas, ainda assim, não é condizente com a importância que a função de professor exerce na sociedade.
PN - Com as novas tecnologias, os professores precisam dispor de mais tempo para dar conta das exigências impostas pela sociedade da informação. Quais são as principais mudanças que as tecnologias trouxeram para a docência?
Sem dúvida, o grande mérito das novas tecnologias foi levar a informação ao aluno que não estava nos centros urbanos. Antigamente, quem morava longe das capitais dos Estados, se quisesse fazer um cursinho de qualidade, uma pós-graduação, teria que se mudar, o que era excessivamente dispendioso para muitas pessoas. Hoje, isso não é mais necessário, em razão de tecnologias, como o sistema telepresencial (via satélite) e a Internet, que permitem que o aluno tenha aulas com os melhores professores sem sair da sua cidade.
PN - Nesse mesmo aspecto, você considera que as ferramentas tecnológicas contribuem no processo de aprendizado dos alunos?
Sem dúvida. Ferramentas como os smartphones e tablets podem contribuir bastante no processo de aprendizado, pois fazem com que a informação fique mais acessível, em tempo real. E isso não vale só para o aluno. O professor também teve que se enquadrar.
PN - Qual a sua dica para quem pretende seguir a carreira de docente?
Em primeiro lugar, deve sentir-se apto a dividir conhecimento. Isso significa percepção de que tem algo a ensinar a outrem. Após, deve sentir-se bem em fazer isso, pois o bom professor é aquele que se contenta com a matemática operação de “divisão”, acreditando na “multiplicação”, sem se preocupar com a “soma”, que é consequência natural. Daí o seu desprendimento. Somos o “altruísmo” em pessoa. Por fim, a didática tem que ser treinada em sala, no dia a dia, embora seja resultado de um forte componente nato.
Além disso, é preciso estar atento ao principal instrumento do professor: a voz. Nesse aspecto, um fonoaudiólogo pode ajudar bastante, não só para cuidar da saúde vocal, como também para aferir o nível de articulação. Somos um país de inúmeros sotaques e, no meu caso, como falo a todo o Brasil, é recomendável que se utilize um falar mais neutro. Com isso, acabei perdendo boa parte do meu “mineirês”. (rs)
Por fim, o domínio da língua portuguesa será um grande diferencial. Particularmente, tenho uma obrigação extra, pois sou professor também dessa Disciplina e tenho que fazer jus à condição.
Quanto à carreira, vejo um quadro favorável a partir de agora. O nosso país vive um momento de prosperidade econômica, com mais pessoas estudando e se preparando, e o bom professor sempre terá lugar nesse mercado crescente.