Polêmica em torno da duração do processo de alfabetização

"Não há proposta, os investimentos praticamente não existem", diz Neide Noffs da ABPp

O Ministério da Educação (MEC) e o CNE (Conselho Nacional de Educação) ainda não estabeleceram um acordo sobre a duração do processo de alfabetização. A posição do MEC é clara: antecipar a alfabetização para o 2º ano do Ensino Fundamental. Já o CNE ainda analisa a terceira versão do documento da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) feito pelo MEC.

Para Neide Noffs, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp, e da Faculdade de Educação da PUC-SP, a preocupação para determinar um tempo-limite para alfabetização é o menor dos problemas, já que demanda algo além de tempo no calendário. "Envolve técnica, processos, condições e, também, a capacitação do educador", diz ela.

O tempo para a aprendizagem funciona apenas como base para um processo mais complexo. Para que a alfabetização se consolide, é preciso observar o ambiente onde ocorre o letramento e a fase de maturação da alfabetização, fatores determinantes na construção da leitura e escrita.

A educadora diz ainda que o professor precisa estar atento às pluralidades das formas e técnicas de transmissão dos conteúdos. Para isso, a qualificação do profissional é essencial, sendo contraditório os mais inexperientes ocuparem cargos nesse período da alfabetização.

"Colocar os menos experientes no ciclo inicial é resultado de más condições de trabalho, baixos salários e falta de acompanhamento na formação dos educadores. Em síntese: não há vontade política", diz Neide Noffs.

A solução encontrada pela educadora é a mudança do foco do debate. Este deve estar no acompanhamento do professor, capacitando-o para que ajude cada estudante e suas singularidades.

"Falta entender, de uma vez por todas, que a alfabetização é um direito de cada criança. Os professores estão preparados para lidar com o ritmo de cada um, com o acesso ao letramento, à leitura? Como a escola lida com isso?" Prossegue Neide Noffs: "São coisas que se articulam, mas no geral se aprende ler, lendo, e escrever, escrevendo. É preciso ter vivências e experiências para interpretar o que se está lendo e expressar de forma clara aquilo que se escreve".

Se pudesse interferir no debate, a educadora mudaria tudo. "A questão da idade depende de maturação, e cada criança tem seu ritmo próprio, que deve ser respeitado. Ela é importante como elemento norteador, mas a questão central que nunca é observada por falta de interesse político deve ser no acompanhamento docente, através da formação continuada e boas condições para os alunos nas escolas. O professor não precisa ser vigiado, e sim acompanhado. Precisa de apoio para entender o aluno e buscar os melhores meios para que ele possa se alfabetizar e se desenvolver", finaliza a educadora.

Fonte: Assessoria de Imprensa da Associação Brasileira de Psicopedagogia

 

 

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado