O que falta na Educação Brasileira?

22 aspectos que faltam para melhorar a educação

Simone Benedetti (*)

simone-benedettiNesta semana, participei de um encontro sobre os rumos da educação nacional. O tema foi o PLANO NACIONAL (E MUNICIPAL) DE EDUCAÇÃO. E a questão central do encontro foi: “o que falta para a educação do Brasil deixar de ser uma das lanterninhas do mundo, atrás até de países como o Cazaquistão?”

Ouvindo a argumentação dos palestrantes, eu me perguntava: por que o discurso que impera no seio das “reflexões educacionais” é sempre tão velho? Muito, muito velho e ULTRAPASSADO!

Por que a área educacional permanece estagnada em conceitos, “reflexões”, “saberes”, discursos e paradigmas pra lá de obsoletos? Por que não fincar o pé na realidade concreta e no clamor de quem está dentro das escolas (professores, coordenadores, diretores e demais funcionários)? Por que não colocar a educação nos trilhos da Ciência do século XXI e das tecnologias? Por que insistir em ignorar os avanços da produção de conhecimento científico da humanidade, para permanecer patinando em “reflexões” inócuas?! Por que não ceder ao pragmatismo, ao funcionalismo?! Ao que é concreto?!

Dentre tantas outras coisas, ouvi: “Nós fazemos a educação. As crianças passam dez, quinze anos na escola, em nossas mãos, e saem sem saber nada. Estamos fazendo a nossa parte? Depois não adianta reclamar da sociedade....” E também: “Precisamos perguntar às crianças se a escola em que elas estudam é a escola que elas desejam ter... Que escolas nossas crianças desejam ter?”

Um dos palestrantes pediu que nós, “fazedores da educação”, déssemos nossa opinião. Aqui vai a minha. A meu ver, o que falta à educação brasileira? Por que nós, docentes e profissionais “de dentro da escola”, estamos, sim, tentando fazer a nossa parte, embora sem conseguir?

1- FALTA SUBSTITUIR AS METODOLOGIAS PSEUDOCIENTÍFICAS DE ALFABETIZAÇÃO POR METODOLOGIAS FUNDAMENTADAS EM ESTUDOS DO CÉREBRO. Aliás, sugiro a todos os que “pensam” e “refletem” sobre a educação que leiam o livro do neurocientista Stanislas Dehaene, “Os neurônios da Leitura”. Ele põe em cheque o construtivismo e os métodos globais de alfabetização, com uma belíssima fundamentação neurocientífica. Na verdade, O LIVRO SÓ VEM APOIAR A CONSTATAÇÃO DOS PROFESSORES ALFABETIZADORES DE QUE ESSAS NOVAS FORMAS DE ALFABETIZAR IMPOSTAS PELO IDEÁRIO CONSTRUTIVISTA SÃO COMPLETAMENTE INEFICIENTES. Mesmo assim, os professores foram obrigados a usá-las e, agora, são os “culpados” pelo insucesso da educação básica e pelos altos índices de analfabetismo funcional.

2- FALTA REDUZIR O NÚMERO DE ALUNOS POR SALA: 30-35 alunos, nas condições precárias das escolas, é a receita para o fracasso...

3- FALTA ACABAR COM A PROGRESSÃO AUTOMÁTICA (outra experimentação catastrófica baseada em pressupostos pseudocientíficos sobre motivação humana...).

4- FALTA FAZER DAS ESCOLAS UM AMBIENTE COM INFRAESTRUTURA TECNOLÓGICA E DIDÁTICA DE ALTÍSSIMA QUALIDADE. Faltam as tecnologias em sala de aula (além de tomadas que funcionem, ventiladores, iluminação adequada...). FALTA TORNAR AS ESCOLAS ESPAÇOS DE APRENDIZADO E NÃO DE CUIDADOS. A FUNÇÃO DA ESCOLA É ENSINAR E NÃO TOMAR CONTA enquanto os pais trabalham!

5- FALTA VINCULAR O RECEBIMENTO DO BOLSA FAMÍLIA AO NÍVEL DE RESPONSABILIDADE DO ALUNO E DA FAMÍLIA EM RELAÇÃO AOS ESTUDOS ESCOLARES. Não falo de desempenho, mas de RESPONSABILIDADE, de ATITUDE, de COMPROMISSO.

6- FALTA A IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE MONITORAMENTO AUDIOVISUAL EM TODAS AS SALAS DE AULA e ambientes escolares. Que tal começar a saber o que fazem professores e alunos dentro das escolas?!!!!

7- FALTA INFORMATIZAR TODO O SERVIÇO BUROCRÁTICO DA ESCOLA: chega de perder tanto tempo preenchendo cadernetas do século passado, fichas-espelho de alunos, semanários, frequência, registro de ocorrências pedagógicas e disciplinares, boletim de notas... Tudo isso deve estar online e disponível para a sociedade e para os PAIS!!

8- FALTAM BIBLIOTECAS com acervo suficiente, atualizado e adequado em todas as escolas, e com BIBLIOTECÁRIO!

9- FALTAM LABORATÓRIOS DE CIÊNCIAS e outros AMBIENTES PARA ATIVIDADES DIVERSIFICADAS E ESPECÍFICAS (auditórios, teatros, salas de música etc).

10- FALTA um ASSISTENTE em cada sala de aula, como nas escolas de primeiro mundo.

11- FALTA UMA ABENÇOADA COTA SEMANAL DE FOTOCÓPIAS PARA OS PROFESSORES!!! Somos cobrados para preparar atividades diversificadas e não passar tanta matéria ou exercícios na lousa, mas cadê os recursos para isso?!! Saem do nosso bolso, né?!!!

12- FALTA que os profissionais de educação DEIXEM O PASSADO TEÓRICO DE LADO e finquem pé nas neurociências. FALTA UMA ATUALIZAÇÃO PROFUNDA E DRÁSTICA NOS CURSOS DE PEDAGOGIA E PSICOPEDAGOGIA, que também precisam deixar ir embora com o passado as pseudoteorias comportamentais, motivacionais e educacionais obsoletas. Os profissionais que dão suporte psicopedagógico aos docentes PRECISAM LER LIVROS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA e não apenas livros de autores dos séculos passados... ou de autores que permanecem “ressignificando” e “refalando” sobre as mesmíssimas coisas...

13- FALTA que as escolas tenham mais AUTONOMIA e AUTORIDADE em suas decisões, além de mais APOIO das instâncias superiores, como as Secretarias Municipais de Educação, ao invés de serem reféns de ÍNDICES DE APROVAÇÃO POLITIQUEIROS e de reivindicações, reclamações e processos administrativos absurdos movidos por pais e alunos.

14- FALTAM MAIS PROFISSIONAIS DENTRO DA ESCOLA, menos sobrecarregados e com funções delimitadas. Um exemplo: quantos coordenadores pedagógicos deixam de olhar a parte pedagógica porque não conseguem parar de resolver problemas administrativos e disciplinares? Com isso, as escolas não conseguem um plano coerente e sincronizado de trabalho didático entre os docentes, principalmente nos últimos ciclos (de 6º ao 9º ano), e cada professor faz o que pode, sem conseguir interligar os conteúdos com os de seus colegas.

15- FALTAM PROFESSORES LEITORES, ESTUDIOSOS, AMANTES DO CONHECIMENTO E MOTIVADOS POR SUAS CONDIÇÕES CONCRETAS DE TRABALHO E NÃO POR DISCURSOS TOLOS e VAZIOS...

16- FALTAM PROFESSORES COM DEDICAÇÃO EXCLUSIVA, trabalhando apenas um período em sala de aula. Ou seja: FALTA UMA REMUNERAÇÃO DECENTE E SUFICIENTE PARA QUE OS DOCENTES SE DEDIQUEM A POUCAS SALAS DE AULA.

17- FALTAM PROFESSORES! Será que a sociedade sabe quantas aulas as crianças brasileiras têm perdido todos os anos, em todas as escolas deste país? Será que a sociedade brasileira se importa com isso? Ou será que, para o Brasil, é suficiente que as escolas sejam apenas abrigos cuidadores das novas gerações e que as crianças e jovens estejam seguros lá dentro, ainda que não tenham aula por falta de docentes?

18- FALTAM DIRETORES igualmente menos sobrecarregados com questões disciplinares, verdadeiros casos de polícia. Escola não é delegacia e seus profissionais não são policiais!

19- FALTA MAIOR CONSCIÊNCIA por parte dos profissionais da educação QUE ATUAM FORA DAS ESCOLAS (gestores públicos e profissionais de apoio) sobre como é, realmente, o trabalho escolar. FALTA QUEM ESTÁ FORA DA ESCOLA IR ATÉ LÁ DE VEZ EM QUANDO PARA TENTAR “FAZER ACONTECER O PROCESSO DE APRENDIZAGEM”, e não apenas ficar teorizando, “ressignificando com um novo olhar” os problemas educacionais em teses doutorais, ou dando conselhos em congressos e simpósios.

20- FALTAM políticos realmente preocupados com a educação nacional e não apenas com o que seus resultados (maquiados) poderão influenciar em suas campanhas carreiristas...

21- FALTA aos alunos brasileiros ADQUIRIR A CONSCIÊNCIA DO QUE É QUE VÃO FAZER NA ESCOLA. Hoje a grande maioria dos alunos vai à escola apenas e tão somente para "zoar" com os colegas, mas não para assistir às aulas ou estudar.

22- E por último: FALTA VALORIZAR OS BONS PROFESSORES! E LHES DAR CONDIÇÕES DECENTES DE TRABALHO! Se o Brasil permanecer TRATANDO TÃO MAL SEUS DOCENTES E NIVELANDO-OS como tem feito, não enfrentaremos apenas um apagão de docentes, porque sempre vai haver gente querendo “pegar umas aulinhas”. Teremos, isso sim, um APAGÃO DE BONS PROFESSORES (O QUE JÁ É UMA REALIDADE NACIONAL), um apagão de professores dedicados, estudiosos, sérios e competentes.

 

(*) Simone Benedetti é Professora da Rede municipal de Itatiba e autora de “A dignidade ultrajada: ser professor do ensino público nos dias atuais (RJ: Barra Livros, 2013).

 

Leia também:  Brasil está em primeiro lugar no ranking mundial de violência nas escolas

Comentários   

0 # marilza 18-10-2014 16:45
Mãe, leia esta publicação da Simone
Responder | Reportar ao administrador
0 # LUCIA HELENA PINHO CRUZ 21-10-2014 13:29
PARABÉNS PROFª Simone Benedetti,AMEI SUA PUBLICAÇÃO. VOU LER O LIVRO SUGERIDO, ATÉ PORQUE ESTOU ESCREVENDO UM MANUAL DE ALFABETIZAÇÃO COM BASE NAS NEUROCÊNCIAS.
GRANDE ABRAÇO
Responder | Reportar ao administrador
0 # Celio Tuffani 05-11-2014 09:48
Si,
Que bom saber que alguém fala a VERDADE nua e crua.Concordo em Gênero,grau. Essas criança precisam de professores competentes e não cuidadores com formação superior.PAIS acordem a função do professor não é cuidar de seu filho na escola.Estou em vias de aposentar e sinceramente não me iludo e minha obrigação foi cumprida.Bom tê-la como amiga e colega de trabalho -PARABÉNS
Responder | Reportar ao administrador

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado