Alguns mitos sobre as universidades públicas são esclarecidos neste artigo
Muita gente acha que as universidades públicas brasileiras são instituições que custam muito e estão isoladas da sociedade, num mundo à parte. Para desmistificar esses e outros mitos, o Jornal da USP publicou uma matéria sobre o tema, e o ProfessorNews complementa com outros dados.
A universidade pública está isolada da sociedade
Segundo o Jornal da USP, a Universidade de São Paulo (USP) interage com a sociedade por meio de assistências médicas e odontológicas, museus, cursos e outras atividades.
A USP é responsável por quatro museus, que recebem quase meio milhão de visitantes por ano. Em cursos de extensão promovidos pela universidade, oferece cinco mil vagas gratuitas para pessoas acima de 60 anos.
Na área de saúde, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP faz anualmente 1,5 milhão de atendimentos e 50 mil cirurgias, e a USP mantém clínicas odontológicas nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto e Bauru.
O Hospital São Paulo, vinculado à Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), atende diariamente mais de 4.500 pacientes ambulatoriais e realiza 1.200 pronto-atendimentos.
O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Faculdade de Odontologia da USP (em Bauru), bem como os outros dois hospitais citados, são hospitais de referência nacional.
Nos países desenvolvidos, a ciência na universidade é financiada pelo setor privado
Segundo o Jornal da USP, nos Estados Unidos, 60% dos recursos para a pesquisa vêm do setor público, e na Europa, 77%. Uma pesquisa, em nível de doutorado, realizado por Danilo de Melo Costa na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que o dinheiro para pesquisa nas universidades, no Canadá, representa 55% a 60%; e na China, de 40% a 45%.
O custo operacional da universidade pública é muito cara
Realmente, as universidades públicas brasileiras custam mais do que as universidades privadas.
Segundo o Censo da Educação Superior do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), 82% dos alunos estão na rede privada, que são basicamente escolas de graduação. Enquanto isso, as universidades públicas se dedicam fortemente à pesquisa científica por meio de programas de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado), mantendo hospitais, centros de pesquisa, laboratórios e museus.
No Brasil, as universidades públicas oferecem 81% dos cursos de pós-graduação e as universidades privadas, 19%, pois estas visam o lucro e as pesquisas de ciência básica, que não trazem resultados práticos imediatos, são descartadas.
Leia a matéria completa publicada no Jornal da USP: 10 mitos sobre a universidade pública no Brasil
Pesquisa Fapesp: dispêndio por matrícula no Brasil, EUA e Reino Unido
A revista Pesquisa FAPESP publicou uma tabela comparando o número de títulos concedidos, dispêndio total e dispêndio por matrícula entre instituições de ensino do Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, selecionando universidades intensivas em pós-graduação.
De acordo com a tabela, enquanto o dispêndio por aluno é de R$ 53 mil na USP, R$ 57 mil na Unicamp e R$ 39 mil na Unesp, nos Estados Unidos e Reino Unido ultrapassa R$100 mil, atingindo a faixa de R$ 600 mil em instituições que investem intensivamente em pós-graduação, como é o caso de MIT e Stanford.
Veja a comparação na tabela a seguir.
No caso dos EUA e Reino Unido, os valores em reais foram convertidos pelo índice médio de 2017/2018 (exceto Cambridge, 2016/2017) de paridade de poder de compra (PPP$), que leva em conta a diferença real de preços entre países.
Tabela 1. Dispêndio por matrícula no Brasil, EUA e Reino Unido
Universidade |
Matrículas graduação |
Matrículas pós-graduação |
Matrículas total |
Matrículas %PG |
Títulos doutorado |
Dispêndio (R$ milhões 2017) |
Dispêndio (R$ mil de 2017) |
Estaduais São Paulo |
|||||||
USP |
58.957 |
30.202 |
89.159 |
34% |
3.078 |
4.726 |
53 |
Unicamp |
18.883 |
12.230 |
31.113 |
39% |
997 |
1.763 |
57 |
Unesp |
37.997 |
13.998 |
51.995 |
27% |
1.227 |
2.025 |
39 |
Reino Unido |
|||||||
Oxford* |
12.288 |
11.687 |
23.975 |
49% |
- |
7.714 |
321 |
Cambridge* |
12.044 |
9.612 |
21.656 |
44% |
- |
5.288 |
244 |
Imperial College |
9.767 |
8.648 |
18.415 |
47% |
1.338 |
2.783 |
151 |
EUA - públicas |
|||||||
Califórnia-Los Angeles |
31.002 |
14.426 |
45.428 |
32% |
1.418 |
10.727 |
236 |
Michigan-Ann Arbor |
29.821 |
16.181 |
46.002 |
35% |
1.522 |
8.125 |
176 |
C. Norte-Chapel Hil |
18.862 |
11.049 |
29.911 |
37% |
1.249 |
5.211 |
174 |
Wisconsin-Madison |
31.358 |
11.619 |
42.977 |
27% |
1.435 |
6.448 |
150 |
Califórnia-Berkeley |
30.574 |
11.336 |
41.910 |
27% |
1.182 |
5.553 |
132 |
Minnesota-Sistema |
44.544 |
17.143 |
61.687 |
28% |
1.686 |
7.662 |
124 |
Stony Brook (NY) |
17.364 |
8.625 |
25.989 |
33% |
592 |
3.175 |
122 |
Texas Austin |
40.942 |
11.033 |
51.975 |
21% |
1.284 |
5.947 |
115 |
Maryland-Coll. Park |
29.868 |
10.653 |
40.521 |
26% |
600 |
4.251 |
104 |
EUA - privadas |
|||||||
MIT |
4.547 |
6.919 |
11.466 |
60% |
622 |
7318 |
638 |
Stanford |
7.083 |
9.437 |
16.520 |
57% |
1.023 |
10.188 |
617 |
Princeton |
5.394 |
2.879 |
8.273 |
35% |
358 |
4.284 |
518 |
Yale |
5.246 |
7.728 |
12.974 |
60% |
709 |
5995 |
462 |
Duke |
6.692 |
9.602 |
16.294 |
59% |
1.041 |
5.817 |
357 |
Harvard |
9.965 |
21.155 |
31.120 |
68% |
1.528 |
10.209 |
328 |
Pensilvânia |
10.033 |
11.874 |
21.907 |
54% |
1.287 |
6.077 |
277 |
Nova York |
26.417 |
24.706 |
51.123 |
48% |
1.456 |
12.308 |
241 |
Cornell-Ithaca |
14.686 |
7.979 |
22.665 |
35% |
804 |
4.544 |
200 |
Fonte: Fapesp
Notas: * Não há dados disponíveis para Cambridge e Oxford para os títulos. Os dados para essas instituições foram estimados.
Para EUA e Reino Unido, os dados se referem ao ano letivo 2017-2018, exceto para Cambridge (2016-2017), e as matrículas e títulos de doutorado incluem todos os tipos de doutorado. No Brasil, foram considerados apenas os de tipo acadêmico.
Os dispêndios incluem todos os tipos de instrução, pesquisa e serviços, exceto os referentes a hospitais e centros de atendimento de saúde.