Seiji Isotani, Professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), pesquisa, entre outros temas, a interação homem-computador e engenharia de software. Ele trabalha há mais de dez anos com softwares interativos e inteligentes voltados para a educação matemática: o IGeom, que se propõe a democratizar o ensino de geometria, desenvolvido pelo Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. Também desenvolve o MathTutor/AdaptErrEx em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos. Segundo o Prof. Isotani, as experiências em laboratório e salas de aula com esses programas vêm demonstrando que eles auxiliam a aprendizagem do aluno. "Diversos trabalhos científicos já foram publicados e diversas escolas adotaram essas ferramentas como uma complementação as aulas convencionais", afirmou o professor, Mestre em Ciência da Computação pelo IME-USP, Doutor em Engenharia da Informação pela Universidade de Osaka (Japão) e com Pós-doutorado na Carnegie Mellon University (EUA). Veja a seguir os principais trechos da conversa dele com o ProfessorNews.
Sobre o surgimento dos softwares e os resultados alcançados
O iGeom, utilizado desde 2002 em disciplinas obrigatórias do curso de licenciatura em Matemática do IME-USP, surgiu com a proposta de democratizar o ensino de geometria utilizando o que chamamos de "geometria interativa". Nessa nova forma de aprender geometria, os alunos são confrontados com figuras interativas que reagem às ações dele, ao invés de ver figuras geométricas estáticas, e tem a capacidade de aprender de maneira ativa. Já o Mathtutor/Adapterrex, tem como objetivo oferecer auxílio inteligente quando o aluno está aprendendo. Assim, ao tentar resolver um problema de Matemática, a ferramenta avalia o conhecimento do aluno e tenta oferecer dicas para que ele aprenda de forma eficaz.
Importância da parceria entre universidades de diversos países em iniciativas como a do desenvolvimento do MathTutor/AdaptErrEx.
O projeto MathTutor/AdaptErrEx é uma iniciativa de criar conteúdo de boa qualidade que pode ser utilizando tanto para pesquisa quanto para atividades em sala de aula. O objetivo é entender como os alunos aprendem Matemática e criar mecanismos para melhorar a qualidade do ensino da disciplina. É um projeto ambicioso, apoiado pelo ministério da educação dos EUA, do qual participei quando trabalhei como pesquisador lá. Ao retornar ao Brasil continuo colaborando com o desenvolvimento desta plataforma. Mas a intenção é criar uma plataforma genuinamente brasileira para lidar com problemas dos nossos alunos. A parceria entre as universidades brasileiras e internacionais é fundamental para melhorar a qualidade da pesquisa e da educação no Brasil. Existem diversos problemas que já foram solucionados em outros países, mas pela falta de interação com outras universidades e pesquisadores no exterior, não temos contato com essas soluções. Além disso, a educação no Brasil pode evoluir muito mais rápido caso tenhamos maior inserção internacional. Neste contexto, o governo brasileiro já está tomando providências. Em julho, foram anunciadas 75 mil bolsas de estudos para alunos que queiram fazer parte de seus estudos no exterior. (CNPq divulga primeiros editais para o Ciência sem Fronteiras na próxima segunda – Professornews – 31/07).
Outros projetos de softwares em desenvolvimento.
Há muitos projetos de softwares em desenvolvimento. O principal deles se refere ao desenvolvimento de uma plataforma flexível que permita ensinar através de dispositivos móveis e técnicas de tutoria inteligente. Assim, qualquer aluno poderá estudar a qualquer hora e em qualquer lugar.
Treinamento dos professores para a utilização desses softwares.
Como toda tecnologia inovadora, existe um período de adaptação. No caso da educação, o período é maior, pois os professores já estão acostumados a ensinar utilizando um método específico. Com a inserção da tecnologia é necessário fazer adaptações e até mesmo aprender métodos pedagógicos completamente diferentes do usual. A formação do professor nas universidades renomadas no Brasil é de excelente qualidade. Além de ter um bom curso, eles já estão acostumados com o uso de tecnologias no ensino. Contudo, o problema está no ambiente escolar, pois muitas escolas carecem de equipamento adequado. Somam-se a isso os baixos salários dos professores e a falta de tempo para se reciclar e se capacitar. Assim, quando um professor novo entra no mercado de trabalho ele é "contaminado" pelos problemas que temos no ambiente escolar e não consegue exercer sua função adequadamente. Dando maior liberdade, tempo, equipamento e oportunidade para os professores, é possível mudar esse quadro. A Profa. Amanda Gurgel fez um excelente discurso sobre o assunto. Para quem tiver interesse, há um vídeo disponível no Youtube, no seguinte link. (O Prof. Seiji Isotani se refere à professora do Rio Grande do Norte que ficou nacionalmente conhecida por seu discurso aos deputados do estado em uma audiência pública sobre a situação crítica da educação, em maio.)
Acesso aos softwares.
Um manual de utilização do software pode ser visto no link. O software para ensino de matemática básica Mathtutor/AdaptErrEx está disponível apenas para uso nos EUA e não apresenta versão em Português. Porém, é possível testar alguma das funcionalidades desse programa. A proposta é desenvolver uma versão brasileira deste software.