Cultura versus cheiros, cores e sabores

A comida diz muito sobre os povos

Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso (*)

sushi sashimi diversosPassear por alguns países do mundo é conhecer parte da sua cultura através de cheiros, cores e sabores. Índia, Turquia, Marrocos, Portugal, Itália, França e tantos outros podem nos induzir a sonhos e um despertar sensorial que mostra muito da cultura de cada um deles.

Seria impossível neste artigo darmos a volta ao mundo todo para descrevermos as curiosidades de cada país de acordo com suas comidas; contudo garanto que valeria muito a pena, pois além do alimento, temos algo bem cultural que é a forma como eles comem e como encaram esse ato social.

A cultura de cada país se define, umas mais que outras, por sua gastronomia. Quase não reparamos nisso, mas a produção, a distribuição e o preparo de alimentos são, há muito tempo, as principais atividades econômicas da humanidade. E nossa relação com a comida ainda comanda boa parte da atenção de governos, da mídia, da comunidade científica e de outras instituições.

Muito dos alimentos conhecidos atualmente apareceram provavelmente há milhares de anos atrás. Segundo Rosa Nepomuceno, em seu livro Viagem ao fabuloso mundo das especiarias, diz que a história dos condimentos naturais está atrelada à da própria humanidade, à sua necessidade de sobreviver, de reinventar os alimentos, recuperar a saúde, prolongar a juventude, driblar a morte, reverenciar o incompreensível por meio dos rituais mágicos, conquistar terra e amores, dominar povos, registrar seus feitos.

Rosa ainda completa: as especiarias transformaram o alimento em refeição, em banquete, festa, prazer, luxo, oferenda, sacrifício, remédio. Revolucionaram costumes, impulsionaram o longo e obsessivo processo de amalgamento das culturas e traduziram, no final das contas, a eterna busca do homem pela felicidade.

Sidney Mintz, antropólogo norte-americano, afirma que os hábitos alimentares são veículos de profunda emoção. Para o autor, a comida e o comer são centrais no aprendizado social por serem atividades vitais e essenciais, embora rotineiras. As atitudes em relação à comida são aprendidas cedo e bem. Segundo ele, o lugar onde crescemos e as pessoas com quem convivemos vão aos poucos construindo um material cultural. A maneira como nos alimentamos e o que comemos revela constantemente a cultura em que estamos inseridos.

O jeito de comer define não só aquilo que é ingerido como também aquele que o ingere, portanto, o que se come, quando, com quem, por que e por quem, é determinado culturalmente.

Outro aspecto do papel da cultura na alimentação está na formação do gosto. Experiências de culturas em particular afetam a maneira como os indivíduos concebem e classificam as qualidades do gosto e como formam as preferências pelos sabores – doce, amargo, salgado, picante e ácido – de populações e individualmente.

Uma das características das culturas asiáticas é justamente ter uma mistura desses sabores em harmonia. A comida tailandesa, que para mim é uma das mais saborosas que conheço, leva em conta essa sutileza na mistura dos tipos de alimentos.

Além disso, em muitos sistemas culturais, o gosto e o olfato identificam e hierarquizam as classes de alimentos naquilo que é comestível em oposição ao que não é. De igual maneira, as propriedades visuais e de textura são outras características sensoriais que determinam se os alimentos são apropriados ou não dentro de uma sociedade.

Na cultura ocidental, por exemplo, há uma oposição simbólica que determina a escolha por parte de classes sociais e de indivíduos dentro das classes. Na sociedade brasileira, destaca-se a preferência pelo que é cozido em detrimento ao que é cru. Aqui, o cozido se apresenta em oposição ao que é cru, fazendo com que o alimento cozido seja algo social por definição.

A culinária possui significados e simbolismos diversos nas diferentes formas de cultura. A comida, portanto, transcende seu significado para algo além do que satisfazer-se biologicamente. Os hábitos alimentares, enquanto aspecto cultural podem revelar identidades e costumes presentes no cotidiano social demarcado no tempo e no espaço.

O ato de comer está entre o que é natural e o que é social/cultural no homem, pois para sua sobrevivência é indispensável o alimento, que, por sua vez, é utilizado e adaptado de acordo com os hábitos e costumes praticados em seu meio.

A antropologia sempre se interessou pelo ato de comer, pois o comportamento relativo à comida demonstra manifestações culturais e sociais e causam estranhamento entre os diferentes povos.

Até mesmo dentro de um mesmo país podemos ver uma diversidade alimentar e cultural bem grande. Aqui no Brasil, podemos perceber isso se viajarmos de norte a sul. Na China, os chineses do norte dizem sobre os do sudeste que “do que voa só não comem avião, do que nada, navio, do que está na terra, o trem”.

A Índia, por sua vez, é uma imensa colcha de retalhos, quer seja sob o ponto de vista geográfico, quer seja ecológico.

E quanto à sua diversidade cultural e alimentar? Fascinante, pois esse país recebeu estrangeiros de vários lugares do mundo, em diferentes épocas. Cada um deles trouxe e levou plantas e novidades de um canto para o outro. Sua cozinha riquíssima tem uma mistura de costumes europeus, árabes, persas, judeus, sírios, gregos, mongóis e romanos.

O assunto comida e cultura é fascinante e vários artigos e livros já foram escritos sobre ele. Só na nossa coluna sobre cultura, temos os seguintes artigos que sugerimos que sejam lidos:

http://www.indikabem.com.br/cultura/a-mesa-simbolo-de-convivio-comunicacao-e-negociacao

http://www.indikabem.com.br/cultura/ampliando-horizontes-a-mesa-simbolo-de-convivio-comunicacao-e-negociacao-parte-ii

http://www.indikabem.com.br/cultura/a-mesa-simbolo-de-convivio-comunicacao-e-negociacao-parte-iii

http://www.indikabem.com.br/cultura/a-mesa-cultura-e-etiqueta-parte-iv-4

http://www.indikabem.com.br/cultura/a-mesa-cultura-e-etiqueta-internacional

http://www.indikabem.com.br/cultura/costumes-diferentes-ao-se-comer


NOTA: este artigo foi reproduzido do link da Professora Maria Helena.

 

maria helena afonso professora(*) Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso é mestre em Comunicação, com pós-graduação em Sucesso Empresarial e Marketing Internacional e cursos de extensão em Marketing e Comércio Exterior na FGV. Coach certificada pela Integrated Coaching Institute. Diversos cursos no exterior sobre temas internacionais e interculturais. Palestrante internacional, professora de pós-graduação da Universidade Mackenzie e diretora da DBI Foreign Trade.

 

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado