Ainda existem castas na Índia?

Mais de 80% dos indianos são hindus, praticantes do hinduísmo

Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso (*)

maria helena afonso profa.É muito comum os ocidentais não entenderem como funciona o sistema de castas na Índia, Sri-Lanka, Nepal e outros países. Segundo o governo indiano, o sistema de castas não existe mais no país, e apesar de o governo não admitir, a verdade é que esse sistema ainda está presente na sociedade, interferindo diretamente na qualidade de vida da população indiana, de uma maneira indelével e sutil.

Ao redor de 83% dos indianos são hindus (praticantes do hinduísmo, religião de caráter sincrético e pluralista, resultante da evolução do vedismo e bramanismo), divididos em castas, que não são nem classes nem etnias, não se definem pela riqueza tampouco pela cor da pele; são complexas e caracterizam-se por vários fatores, como: pureza e impureza, profissão original ou habitual, casamento endógeno, hábitos alimentares e de vestimenta.

O que chama a atenção é que em uma sociedade de castas, os valores mais significativos são os da hierarquia, e o grupo é mais importante que o indivíduo.

Em hindi (língua falada pela maioria dos indianos) a palavra casta é chamada varna e cada uma delas define uma posição hierárquica da pessoa na sociedade. O hinduísmo defende que o corpo do deus Brahma ou Purusa foi dividido em várias partes. Os seus membros deram origem às quatro castas principais: a sua boca ou cabeça tornou-se o brahmana ou Brâmanes, que é a casta dominante; os seus braços se transformaram no ksatrya ou Xátrias, que é guerreiro ou cavaleiro; as suas coxas em vaisya ou Vaixás, que é comerciante; e dos pés nasceu o sudra ou Sudras, que são os serviçais e empregados domésticos.

Existiu, porém um grupo que ficou de fora dessa divisão por ser considerado “a poeira sob os pés do deus Brahma”. São os párias ou dalits. Os dalits não foram originados do corpo de Brahma e, por isso, não pertencem à casta alguma. Também chamados de intocáveis, eles são considerados impuros e ninguém ousa tocá-los. Eles realizam as tarefas mais desprezíveis, tais como: coveiros e recolhedores de resíduos, e chegaram a ser chamados de Harijan, “filhos de Deus” por Mahatma Gandhi.

Por serem considerados impuros, os dalits só executam tarefas consideradas indignas pelo restante da população. Além de terem que estar em contato constante com os mais variados tipos de coisas nojentas, eles têm que cuidar dos mortos, sejam pessoas ou animais.

As pessoas de outras castas não podem tocar em dalits e nem sequer pisar na sombra de algum deles. Por se tratar de uma tradição muito forte, os intocáveis não contam com qualquer intervenção e são totalmente excluídos e discriminados. São considerados descendentes dos bastardos míticos gerados na união sexual de um shudra com uma brâmane. É o pior dos híbridos, segundo a ideologia hindu, e classificados no nível do cachorro e do porco.

O preconceito contra eles era tão forte no passado que eram proibidos de entrar na cidade de Puna antes das nove horas da manhã e depois das três da tarde, pois as sombras dos seus corpos, muito longas sob o sol rasante, podiam cair em um membro de uma casta superior e sujá-lo.

Em Maharashtra, um intocável não podia cuspir na rua porque arriscava poluir aquele que pisasse em seu cuspe, e devia carregar um pote de terra preso ao pescoço para escarrar dentro dele. Se um brâmane cruzasse seu caminho, devia se deitar no chão, para não criar sombra. No Punjab, quando um gari saía à rua, supostamente deveria levar uma vassoura sob o braço para indicar a sua casta, e deveria gritar para advertir a população de sua presença poluente.

Tudo isso ocorria na Índia, antes da independência do país, em 1947. Após essa data, a intocabilidade e a discriminação de castas foram abolidas pela nova Constituição e pregadas fortemente por Gandhi.

Hoje, eles não podem mais ser proibidos de entrar em templos, lojas, restaurantes, tirar água de poços, escolas, estradas e o Estado lhes reserva cadeiras no Parlamento e empregos na administração. Suas profissões mudaram, mas eles continuam sentindo na pele a discriminação que sua origem lhes impõe.

Para ler o texto completo, acesse o link da Professora Maria Helena.

(*) Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso é mestre em Comunicação, com pós-graduação em Sucesso Empresarial e Marketing Internacional e cursos de extensão em Marketing e Comércio Exterior na FGV. Coach certificada pela Integrated Coaching Institute. Diversos cursos no exterior sobre temas internacionais e interculturais. Palestrante internacional, professora de pós-graduação da Universidade Mackenzie e diretora da DBI Foreign Trade.

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado