Acervo histórico da gravadora Rozenblit entra na era do streaming

UFPE realiza trabalho de preservação, restauro e curadoria do acervo sonoro

Uma parte importante da cultura musical nordestina e brasileira extinta pelo fim dos discos de vinil e fitas K7 está prestes a reviver seus dias de glória, graças à tecnologia digital. Fundada em 1954 por José Rozenblit, em Recife (PE), a Fábrica de Discos Rozenblit foi uma das mais importantes da indústria fonográfica nacional até a década de 1970, contribuindo com o lançamento de discos de artistas regionais e nacionais.

De posse do empresário de comunicação João Florentino desde 1995, o acervo da Rozenblit está sendo digitalizado e disponibilizado em plataformas online, e seus discos deverão ser novamente comercializados, só que desta vez por streaming (pela internet). É possível ouvir parte do acervo no YouTube.

Na década de 1960, a Rozenblit registrava quase um quarto da indústria fonográfica nacional. Em seus selos, gravaram artistas regionais, como Capiba, Nelson Ferreira, Claudionor Germano, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Expedito Baracho, Zé Keti, coral da Mangueira, Maria Odette, Pixinguinha, Tom Jobin e vários outros.

Além de revelar artistas, com grandes tiragens de venda, a Rozenblit contribuiu no registro sonoro de ritmos e artistas populares que, se não tivessem sido gravados, teriam suas memórias perdidas no tempo, como foi o caso do LP Pastoril do Velho Barroso, de 1978.

O disco é de Pastoril Profano ou Ponta de Rua, que caracteriza-se pelo oposto ao Pastoril Infantil ou Religioso, como diz a produtora deste trabalho, a jornalista e professora-coordenadora da especialização em Psicologia Jurídica da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Helena Ribeiro.

“Entre os múltiplos aspectos do folclore de Pernambuco, temos o Pastoril, não apenas aquele importado dos nossos antecedentes europeus, mas o seu oposto, o “Pastoril de Ponta de Rua”, cuja característica é a jocosidade, encontrada nas suas anedotas picantes e ditos apimentados”, descreveu.

Sobre a volta dos discos da Rozenblit, Helena Ribeiro acrescentou. “Acho muito importante a volta dos discos da Rozenblit, principalmente, por tratar-se de um resgate de nossa cultura. O disco que produzimos em 1978, com Barroso, foi o primeiro de Pastoril Profano, e acho até que o único dos velhos de pastoril do começo do Século XX, o que o torna especial”, disse ao Professornews.

Além do Pastoril, a fábrica gravou vários discos de Frevo de bandas do interior de Pernambuco, como as famosas Capa Bode, de Nazaré da Mata, a Pé de Cará, e a Revoltosa, de Timbaúba. Isso sem falar nos discos dos Irmãos Valença, autores da marcha carnavalesca O Teu Cabelo não Nega, conhecida em todo o Brasil.

Hoje, esses discos custam pequenas fortunas nos sebos do Recife.

A Rozenblit produzia seus discos de acordo com os ritmos nacionais, utilizando os selos Mocambo (Frevo, Pastoril, Forró, Cavalo Marinho e artistas regionais), Passarela (Sambas, Coletâneas Carnavalescas e Trilhas Sonoras), Artistas Unidos (Artistas das regiões Sul e Sudeste), Arquivo (Coletâneas Especiais) e Solar (voltados a sons experimentais).

“Faço isso porque gosto da música de Pernambuco e para não deixar o acervo morrer, para se perpetuar na história”, disse João Florentino ao Diário de Pernambuco, afirmando não pensar no lucro do projeto. Ao seu lado no trabalho de digitalização está Hélio Ricardo Rozenblit, um dos filhos de José Rozenblit.

Os discos serão comercializados no mercado internacional pela francesa Believe Digital. “Trabalhar com um catálogo como o da Rozenblit é resgatar um pouco a história da música brasileira em sua diversidade e colocá-la em destaque no país e no mundo, com todo respeito necessário. É quase um trabalho de arqueologia. Acredito que mais uns 50 a 100 álbuns estarão disponíveis até o fim do ano”, relatou James Lima, gerente da Believe no Brasil ao Diário de Pernambuco.

Desde 2010, a Universidade Federal de Pernambuco contribui com a preservação, restauro, valorização e curadoria do acervo da Rozenblit, através de um acordo de cessão de direitos com João Florentino. A iniciativa integra o Programa de Extensão Rede Memorial de Pernambuco, aprovado pelo Ministério da Educação, por meio do Edital Proext/MEC/SESU 2015.

Fonte: Diário de Pernambuco

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