Pesquisas em sebos podem resultar em surpresas agradáveis
Há exatamente dois anos, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) publicou um artigo em que afirma que o brasileiro está lendo mais; por outro lado, o Instituto Pró-Livro divulgou em julho passado que houve uma queda em todo setor editorial no país.
Por isso, o Portal Professornews tenta, nesta reportagem, traçar um breve perfil da preferência de leitura dos jovens e da classe acadêmica em geral. Mas, em vez de analisar os números das pesquisas em livrarias, nossa equipe foi conversar com quem lida diretamente com o público consumidor de livros usados, nos "sebos" da cidade de São Paulo.
Muitos estudantes, professores e pesquisadores buscam livros esgotados, raridades que o tempo quase esqueceu, para completarem suas pesquisas e estudos. As lojas de livros usados também são bastante procuradas por leitores que não têm condições de adquirir livros novos a preços de lançamento. Nesses acervos, podem ser encontrados tomos valiosos, de qualidade ímpar e quase mitológico.
Os alfarrabistas (pessoas que negociam livros usados) deram suas opiniões e indicações sobre as preferências dos clientes, os livros mais requisitados e preciosidades literárias que podem valer uma pequena fortuna.
Professornews: Você acredita que o público leitor esteja crescendo, principalmente entre os jovens?
Maria Conceição Freitas – gerente da Livraria Sebo Red Star 25: O número de público leitor está caindo, as pessoas estão perdendo o hábito da leitura, mas, em parte, a culpa disso é a falta de incentivos do governo para a leitura. No Rio de Janeiro, existe um projeto que realiza uma feira de livros todo mês num bairro diferente; assim, a sociedade pode ter mais contato com a literatura. Outro fator é a nossa economia, pois uma família de classe média que tem dois filhos estudantes tem dificuldade para comprar diversos livros que custam hoje em torno de R$ 50,00 cada.
Professornews: Em geral, o seu público, além dos clientes acadêmicos, o que procura em sua loja?
Em seu acervo, Maria Freitas aponta uma bíblia que data de 1866, de Antonio Pereira de Figueiredo, no valor de R$ 1.200,00. Mas a obra mais cara é a coleção Direito, da Editora Saraiva, que custa R$ 2.500,00. Na foto, ela mostra, além da bíblia, os exemplares de Matemática Elementar, de Osvaldo Dolce; Estas Estórias e Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa; e De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, o pai da anatomia moderna.
Professornews: Como você encara o senso crítico do leitor brasileiro atual?
Johnny Souza – funcionário da Livraria Sebo Riachuelo, e estudante do 3º ano de Letras: Considero, em geral, o senso crítico do jovem brasileiro em leitura muito fraco. Por um lado, estão lendo mais, mas o que estão lendo é a grande questão. No metrô, por exemplo, você observa muitos jovens com um livro ou um tablet, mas estão lendo best sellers, romances americanos, mas a nossa literatura que é riquíssima, eles preferem ignorar. Ao invés de estarem lendo Jorge Amado, ficam presos exclusivamente aos 50 Tons de Cinza (livro que vendeu milhões de cópias em todo o mundo) ou então a obras que chamamos de ‘lixo cultural dispensável’. Estou cursando Letras e espero contribuir com a educação no país, inclusive, incentivar os meus futuros alunos a descobrirem a nossa literatura.
Professornews: E quais são os livros mais procurados aqui?
Na foto, Johnny posa com um exemplar do Atlas de Anatomia Humana, de Frank H. Netter, MD. Do acervo, o entrevistado apontou a Coleção Pensadores, da Editora Abril, como a mais valiosa, com preço de R$ 1.200,00.
Professornews: O brasileiro nunca possuiu uma fama de leitor assíduo. Você acha que isso mudou?
Na foto, José Amorim aparece com os livros História Natural, em latim-romano (pelo preço de R$ 5 mil), de Caii Plinii Secundi, e Arte Plumária e Máscaras de Dança dos Índios Brasileiros, de Noemia Mourão.
Professornews: Você acredita que o e-book poderá substituir o livro impresso um dia?
José Amorim: Acho que não, porque quem gosta de manusear e folhear um livro, não o trocará por um e-book, até porque a leitura no computador, depois de um tempo, cansa a visão.
Professornews: Qual é o produto mais procurado em sua loja?
Maria Secol – proprietária do Sebo Praia dos Livros: Estamos próximos à USP, FMU e UNIP, e estudante universitário procura preço, o que não ajuda muito quando os professores pedem livros que estão fora de catálogo ou de edições mais antigas. O engraçado é que a procura por livros mais novos sempre são das áreas de química, biologia e saúde. Mas isso não acontece com os de matemática, física, cálculo e estatística, porque professores e estudantes preferem os autores mais antigos.
Professornews: Então vemos que a rotatividade de jovens aqui é alta. Eles consomem muitos livros?
Na imagem, a livreira apresenta a coleção mais valiosa da loja, a História da Literatura Brasileira, de Sylvio Roméro, de 1888, com preço de R$ 1.500,00.
Fotos e reportagem: Alexandre César