Marketing Futebol Clube: lançamento contou com a presença de Andrés Sanchez

Autores e convidados discutiram gestão no mundo esportivo e a Copa do Mundo

sarau-Zenone Sanchez Lima e FleuryUm bate-papo sobre futebol, Copa do Mundo, teses acadêmicas nas áreas esportivas e a atual situação econômica e política do Brasil foram os temas do Sarau de Negócios, organizado pela Editora Atlas na Livraria Martins Fontes, em São Paulo (SP), na última terça-feira (28).

O evento serviu para o lançamento do livro Marketing Futebol Clube (Luiz Claudio Zenone – Editora Atlas, 2014, 1.ª edição, brochura, 152 p., R$ 45,00 impresso e R$ 36,00 e-book).

O encontro contou com ilustres convidados, como o professor de Gestão do Esporte da Uninove, Fernando Fleury; do professor da PUC-SP, Carlos Alberto Safatle; do professor José Renato Sátiro Santiago, da Fundação Vanzolini; e do ex-presidente do Sport Club Corinthians e ex-dirigente da CBF, Andrés Navarro Sanchez.

Na reunião, que teve a participação de professores, escritores, jornalistas, profissionais de marketing e esportes, foram comentados sobre gestão de negócios nos clubes de futebol do Brasil, engrandecimento de marcas e produtos, direitos de imagem, contratos e vários outros assuntos. Dentre tantos temas, Andrés Sanchez aproveitou para contar como transformou a marca “Corinthians” numa das maiores do continente sul-americano.

sarau-Andrés Sanchez I"No período em que fui presidente do Corinthians, ganhamos uma Copa do Brasil e voltamos à Série A do Campeonato Brasileiro, depois da tragédia de cairmos para a Segunda Divisão. Isso porque reunimos um bom departamento de marketing e, tempos depois da minha gestão, o clube conquistou a tão almejada Libertadores da América e o Mundial de Clubes. Hoje, a marca ‘Corinthians’ é a mais valorizada da América do Sul. E isso nós devemos à credibilidade que conquistamos com parceiros, patrocinadores e contribuintes do clube".

Sobre a gestão de negócios, Sanchez acrescentou: "Estabelecemos diferentes estratégias para a nossa torcida. No futebol, é necessário conhecer o seu torcedor. Eu vivo comentando: o Corinthians tem torcedores milionários, ricos, classe média, baixa, pobres e aqueles que dizem torcer, mas não frequentam estádios. Por isso, montamos categorias diferentes de sócios, onde o ingresso mais caro, logicamente, dá direito a bebida e comida de graça, e melhores locais de estacionamento, ou seja, regalias que outros menos abastados não podem pagar. Já os demais torcedores terão outras vantagens de acordo com seu poder aquisitivo. Não é fácil gerir futebol; realmente, vivemos num mercado muito inflacionado e nem sempre o clube pode contratar um jogador que deseja".

"Vivo sendo perguntado na rua por torcedores: ‘ah, tem que contratar, é preciso reforçar o time’ e eu sempre respondo: você é sócio? Você contribui com o clube? É só você assinar um cheque, que eu contrato quem você quiser", completou o ex-dirigente, arrancando risadas dos presentes.

Ao Professornews, o autor e os demais convidados deram algumas declarações.

Professornews: Se compararmos as duas épocas em que o Brasil foi escolhido como palco de uma Copa do Mundo, em 1950 houve uma comoção em todo o País, com torcedores enchendo estádios em todas as cidades-sede, além de festas e ruas enfeitadas. No entanto, o País vem atravessando uma onda de protestos e greves e a população não parece empolgada em receber a Copa. Recentemente, um dos patrocinadores da Seleção Brasileira lançou o slogan “O Futebol está voltando pra casa”. Mesmo assim, o povo parece imune a qualquer empolgação pelas partidas do maior evento de esportes do mundo. O senhor acha que o Governo Federal e as empresas não souberam como vender produtos e imagens da marca ‘Brasil’?

sarau-Fernando Fleury IIProfessor Fernando Fleury: Em recente pesquisa nos Estados Unidos, local onde o seu povo é extremamente patriota, foi aplicado um teste para medir o nível de nacionalidade do brasileiro, e fiquei espantado ao saber que o resultado registrou que 95% do nosso povo se considera patriota. Não vejo que o povo brasileiro esteja contra a Copa, mas contra injustiças e fazem reivindicações aos governos. Essas manifestações de revoltas deveriam ter ocorrido em 2007, quando foi anunciado que o Brasil seria a sede. Por que os manifestantes não foram às ruas naquela época? Agora é mais fácil, por conta da visibilidade mundial que a Copa traz. Por conta disso, muitas marcas estão com receio de vincular seus nomes ao evento. Algumas empresas se viram numa sinuca de bico, quando se indagam ‘Fico a favor da Copa ou fico a favor de uma parcela da população que não quer a Copa’? A Coca-Cola, por exemplo, está com receio de fazer uma ação nas ruas, com medo de que tenham seu material depredado e seu nome manchado durante uma manifestação na rua. É complicado!

Professornews: A insatisfação de muitos brasileiros fez com que gritassem uma frase em todo o País: “Não vai ter Copa”.

Professor Fernando Fleury: Esse é um dos maiores motivos de revolta dos manifestantes, o dinheiro gasto em estádios e outras coisas para a realização da Copa. É bom que se diga, a Fifa não enganou ninguém. Ela apresentou suas diretrizes e normas para realizar o evento, e o Brasil aceitou tudo, assim como fez a África do Sul em 2010. Depois das Olimpíadas de 2012, a Austrália não sabe o que fazer com vários estádios que estão abandonados. Até hoje, há inflação na Grécia por conta das Olimpíadas de 2004. Os Jogos acabaram sendo um dos motivos da crise no país. Particularmente, sou contra investimentos governamentais em esportes profissionais. Os governos poderiam investir nas bases, para formar cidadãos. Se as crianças tivessem vocação para a vida de atleta, entrariam a iniciativa privada, como acontece nos Estados Unidos, e teriam uma carreira profissional.

Professornews: No encontro, foi comentado que há torcedores das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste que preferem torcer para os times do Sul-Sudeste. Mas acontece também de muitos torcedores do Sul-Sudeste preferirem torcer para clubes da Europa. O que os clubes brasileiros devem fazer para evitar esses dois fenômenos e manterem seus torcedores fiéis?

sarau-Lima Zenone e FleuryLuiz Claudio Zenone: É necessário que os clubes criem promoções e campanhas para manter seus torcedores, e é bom esclarecer, o torcedor é fiel ao seu clube, dificilmente alguém opta por mudar de clube, principalmente após os seis, sete anos de idade. Veja o exemplo do Santa Cruz, de Pernambuco, que passou anos na Quarta Divisão, até que chegou à Série B, e sempre com estádio lotado e com seus produtos vendendo bem. Um grande problema de nosso País é que há muitos clubes que jogam apenas um campeonato estadual e depois não tem outras competições a disputar. Isso faz com que a falta de receita desfaça o elenco de jogadores e comissões técnicas e isso afasta o torcedor. Também é bom lembrar que o torcedor brasileiro não gosta só de futebol, mas de ganhar. Por isso, há essa tendência de torcer para clubes com mais investimentos e mais títulos.

Professornews: Quais seriam as melhores ações de marketing para clubes que possuem pouca participação nos calendários de competições?

Professor Agnaldo Lima: Não há ação de marketing ou assessoria de imprensa que possa fazer isso. É necessário que haja um fortalecimento financeiro nas federações estaduais de futebol, para que seus filiados permaneçam ativos durante todo o período de competições. Um grande exemplo de inatividade é o Ituano daqui de São Paulo: passou por grandes clubes da capital, como o Corinthians e derrotou o Santos na final, mas ninguém lembra mais; o Ituano está parado. Com as federações fortes, as ações de marketing tornam-se mais fáceis. Se criássemos uma “Gestão do Torcedor”, os clubes poderiam criar promoções, eventos de captação de recursos, sorteios ou quaisquer outros planos de estratégia para manter seus torcedores e o time sempre participando de torneios e campeonatos. Isso chama atenção das mídias, como imprensa televisiva, de internet, de rádio e dos jornais.

Fotos e reportagem: Alexandre César

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