Economista da USP fala sobre recuperação da economia japonesa

A cadeia de desastres que atingiu o Japão no dia 11 de março causou mortes e sofrimento. O número de desaparecidos ainda está na casa dos cinco dígitos e os problemas com a infraestrutura danificada pelo terremoto seguido de um tsunami agrava a situação. Porém, o mais importante é sabermos que lições podemos aprender com essa situação. O Professor de Economia Silvio Miyazaki, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, afirma que, em termos de ensino, a catástrofe natural e a crise nuclear devem ser analisadas de forma interdisciplinar.
O professor Miyazaki esclarece que, ao contrário do que foi divulgado em alguns meios de comunicação, a região atingida pelo desastre não é essencialmente agrícola. Há várias indústrias no local. E isso pode ter impacto não só na economia japonesa, que é baseada na exportação, mas também nas indústrias globalizadas que dependem de peças japonesas, como as indústrias automotivas e de eletrônicos. Além disso, o país enfrenta problemas de infraestrutura, já que as estradas e o fornecimento de energia foram afetados.
Uma das piores consequências do desastre foi o acidente na Usina Nuclear de Fukushima. Como único país do mundo a ser vítima de bomba nuclear durante a Segunda Guerra Mundial, é de se questionar o por quê do uso dessa fonte de energia naquele país. O professor Miyazaki explica que é uma questão de custo-benefício e de segurança nacional. As alternativas energéticas são escassas para o Japão. O país conta com algumas termelétricas, mas essas são poluentes e o Japão dependeria de importar matéria-prima. A construção de hidrelétricas está fora de questão pela própria geografia do país. Então, a alternativa viável e “limpa” é o uso de energia nuclear.
Para o professor, a principal lição que podemos aprender com os acontecimentos no Japão é o gerenciamento de crise. Em relação ao terremoto e ao tsunami, o povo japonês é bem preparado. Não só os profissionais recebem treinamento, mas também a população em geral recebe orientação de tempos em tempos. O professor alerta, ainda, para a falta de curso específico de gerenciamento de crise em cursos de Administração Pública no Brasil. O assunto é visto sem profundidade, mas mereceria uma disciplina em curso de graduação ou mesmo uma pós-graduação. Afinal, não temos terremotos nem tsunamis no Brasil, mas temos tido problemas com enchentes, cada vez mais frequentes e que também podem ser encaradas como “crise”. Além de termos usinas nucleares como em Angra dos Reis.
O Professor Silvio Miyazaki é professor de Economia na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Doutor em Economia e Mestre em Administração Pública pela FGV, com Pós-graduação em Economia Internacional pela Universidade Hitotsubashi. É autor do livro As Origens do Investimento Japonês na Ásia, da Editora AnnaBlume, publicado com apoio da FAPESP. 

Fonte: Da Redação - Professornews

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