Sobre uma suposta bolha imobiliária no Brasil

As características dos mercados brasileiro e americano são diferentes, segundo o economista

José Braga (*)

Jose Braga UnisalHá algum tempo, ou desde o aquecimento do mercado imobiliário brasileiro, a maioria dos céticos comentaristas econômicos vem afirmando que o Brasil viveria uma bolha imobiliária, aos moldes do que vivera a economia norte-americana. Essa suposição se justificaria pelo fato de o mercado imobiliário brasileiro estar aquecido, com valorização excessiva dos imóveis e um alto índice de endividamento das famílias. Características aparentemente semelhantes às da economia norte-americana quando do estouro da sua bolha imobiliária. Acontece, porém, que quando analisadas as causas desta aparente similaridade, percebemos que elas são distintas, produzindo, portanto, realidades também distintas e que, por consequência, não podem provocar resultados semelhantes. Explico.

O território norte-americano é um importante celeiro do desenvolvimento do capital financeiro e de suas racionalidades liberalizantes. Racionalidades que vem desregulamentando mercados com o propósito de facilitar a movimentação e a reprodução ampliada do capital. Em meio a essa desregulamentação neoliberal e o aquecimento do mercado imobiliário norte-americano, o capital financeiro inovou nas formas de se relacionar com as famílias e se valorizar.

Uma primeira inovação que impulsionou os mercados imobiliário e financeiro foi a securitização, ou a possibilidade de emissão de títulos lastreados em hipotecas imobiliárias. Tais títulos – subprime – atraíram os investidores, seja por causa dos rendimentos relativamente altos – pela valorização dos imóveis em um ambiente de juros baixos –, seja pela percepção amplamente difundida de seu baixo risco devido às garantias governamentais implícitas.

Outra importante inovação foi a possibilidades de refinanciamento de hipotecas, ou a possibilidade de substituir hipotecas antes do seu vencimento por outras, portando taxas de juros menores e acrescidas, ou correspondentes ao novo valor do imóvel. Na mesma perspectiva, outra inovação foi a possibilidade de se contrair novos empréstimos correspondente à valorização do imóvel, ou uma espécie de segunda hipoteca, mas que podia ser usada para gastos de qualquer natureza. Ou seja, na medida em que o imóvel se valorizava, seu proprietário contraria novas dívidas, tendo a valorização do imóvel como garantia do empréstimo. Novos endividamentos que lastreavam novos títulos e que retroalimentavam a valorização dos imóveis, transformando-se em uma bolha financeira especulativa lastrada no endividamento privado.

Felizmente, essa liberalidade no mercado financeiro não chegou ao Brasil. Aqui, o aquecimento do mercado imobiliário tem outro lastro. Dados recentes do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que de 2007 a 2012, 5,24 milhões de moradias foram adquiridas. Diminuindo o déficit, no mesmo período, de 10% para 8,53%. Essa realidade não seria alcançada sem o endividamento das famílias. Ou seja, o aquecimento do mercado imobiliário e o endividamento das famílias brasileiras originam-se no atendimento de uma demanda reprimida, não especulativa, e que é possibilitada pelo aquecimento da economia e o aumento do emprego. Com isso, a única possibilidade de o nosso mercado imobiliário entrar em colapso é se a economia entrar em colapso. Ou seja, aqui, ao contrário do que afirmam os céticos, qualquer crise imobiliária seria consequência de uma crise maior, ou não vivemos uma bolha especulativa imobiliária.

 

(*) Prof. José Braga é Economista, Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo e Mestre em Ciências Política. Leciona nos Cursos de Direito, Contabilidade, Engenharia Ambiental, Engenharia da Produção e no Serviço Social do UNISAL Americana.

 

Comentários   

0 # Murilo Fujita 25-02-2014 12:09
Prezado professor Braga,

parabenizo pelo artigo.
Uma dúvida que me incomoda é não entender como o mercado não colapsa se os imóveis estão cada vez mais caros e o poder aquisitivo em geral não acompanha o mesmo ritmo.
Pela sua publicação, entendo que há um equilíbrio entre o valor do imóvel e as dívidas. Desta forma, o dinheiro está sempre circulando movimentando a economia.
Caso eu tenha cometido algum equívoco, peço que me corrija.
Sucesso!
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0 # José Braga 04-03-2014 09:08
Olá Sr. Murilo.
Tentando responder sua dúvida, na verdade, a demanda por imóveis e os seus valores têm aumentado em função da elevação da renda; seja porque a economia cresce, seja porque com esse crescimento, o emprego aumenta e com ele a massa salarial; seja ainda porque com a diminuição do desemprego, os salários sobem. É preciso considerar ainda que o aquecimento do mercado imobiliário não se limita às classes baixas – onde a renda sobe mais devagar –, as próprias classes média e média alta estão comprando imóveis também. Entenda que o mercado não entra em colapso porque existe demanda reprimida e porque o Governo Federal tem atuado nos diferentes mercados de tal forma que os imóveis voltados para as classes mais populares são os que menos sobem, enquanto os valores dos imóveis para as classes média e média alta – que tem maior poder de compra/pagamento – sobem mais.
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0 # MR 25-02-2014 15:17
Ciente, próximo!
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