Quanto vale uma garrafa de 2,5 litros com moedas de R$ 1,00?

Pessoas dispensam poupança em bancos e apostam em guardar níqueis em casa

Moedas Bruguelinho IIIQuem, quando criança, não teve um cofrinho em forma de porquinho de barro ou de plástico, que usava para guardar moedas da mesada ou do troco da padaria? Passada a fase da infância, algumas pessoas optam por outros meios de poupar, investindo suas economias no mercado financeiro.

 

No entanto, muitos adultos e algumas crianças ainda mantêm o hábito de guardar moedas para alcançar seus objetivos, seja para realizar uma viagem, promover uma festa, comprar um bem de consumo ou até mesmo como uma forma de se planejar para uma possível emergência. O Portal Professornews entrevistou algumas pessoas que preferem manter suas botijas em casa do que num banco.

A garrafa de refrigerante de 2,5 litros está cheia até o gargalo da mais pura prata – apesar de não ser inteiramente verdade, já que as moedas de R$ 1,00 são feitas de aço e inox no centro e de bronze no anel dourado – o cofre improvisado é o orgulho do casal Alfrêdo dos Santos e Ana Moraes, que juntam moedas de R$ 1,00 há exatos quatro anos.

Apelidada de Bruguelinho (termo nordestino para criança pequena), a garrafa de Alfrêdo, que é jornalista, e Ana, que é professora do ensino médio do Estado de São Paulo, será aberta na última semana de dezembro deste ano, e o dinheiro será depositado na conta-conjunta do casal. A renda mensal deles é de cerca de R$ 3.500,00.

Professornews: Como surgiu a ideia de guardar moedas em casa? Não seria mais simples manter o dinheiro no banco?

Ana Moraes: Quando casamos em dezembro de 2009, meu marido ficou desempregado, mas, mesmo assim, resolveu poupar moedas de R$ 1,00 nessa garrafa, com intuito de termos dinheiro para o nosso primeiro filho, que ainda estamos planejando. Pretendemos depositar o dinheiro acumulado, mas não vamos fazer isso mais uma vez.

Alfrêdo dos Santos: Ouvi de um amigo em Pernambuco, nossa terra, que guardou moedas por um ano e, com isso, comprou um aparelho de micro-ondas. Pensei, então, em fazer o mesmo, já que não consigo manter minha conta poupança em paz. Nesses quatro anos de economia em moedas, fiquei desempregado por um ano e trabalho há três num site, mas a garrafa sempre permaneceu intacta, nunca tirei sequer uma moedinha, é como se esse dinheiro não existisse para mim.

Professornews: E como vocês fazem para poupar?

Ana Moraes: Eu utilizo mais o cartão de débito; não ando muito com dinheiro, até por conta da segurança na rua, mas sempre que pego uma moeda, entrego ao meu marido. Ele junta as de R$ 0,10, R$ 0,25 e R$ 0,50 e troca pelas de R$ 1,00 nos comércios perto de casa ou do trabalho. Uma vez, ele estava dormindo e precisei de dinheiro para pegar o metrô. Fui até a cozinha e tirei do cofrinho R$ 6,00 para a passagem. Quando contei a ele, brigou comigo. Desde então, nunca mais tirei moeda da garrafa, e olha que já passamos por alguns apertos (risos).

Alfrêdo dos Santos: Qualquer troco que ganho em moedas eu guardo; dificilmente, eu gasto. Se eu ficasse com elas, acabaria gastando-as com alguma besteira. Por isso, resolvi juntá-las e ter uma poupança em casa para o filho que ainda estamos planejando. Para isso, vale tudo, como catar moedas na rua, mesmo as de R$ 0,05 que ninguém se anima em abaixar-se para pegar, como também trocar cédulas nos comércios. Estimo que a garrafa contenha pouco mais de R$ 2.000,00.

Assim como o casal Ana e Alfrêdo, Paulo Azevedo, técnico de televisão aposentado, também residente em São Paulo, guarda moedas para um planejamento familiar, mas com uma certa diferença. Há um ano, o Paulo montou um cofre feito de lata de chocolate em pó, com objetivo de presentear sua neta de 6 anos, que fará aniversário em março de 2014. A sua renda mensal é de R$ 1.800,00.

Professornews: Qual foi o objetivo da poupança em moedas?

Paulo Azevedo IIPaulo Azevedo: Uma criança sabe melhor do que ninguém o presente que quer receber em seu aniversário; por isso, ao invés de tentar adivinhar o que ela gostaria de ganhar, resolvi dar um cofre com moedas de R$ 1,00 para ela. Na primeira lata, já tem R$ 500,00. Estou já economizando numa segunda lata, que também entregarei a ela.

Professornews: O senhor não preferiria que esse dinheiro fosse depositado numa conta de poupança para sua neta usar quando crescer, para cursar uma faculdade ou comprar um carro?

Paulo Azevedo: Não penso nisso, porque os pais dela são bem estruturados, e a minha neta, mesmo muito nova, é bem ajuizada e tenho certeza que ela terá um futuro brilhante. Agora, se a mãe dela, que é minha filha, decidir que esse dinheiro servirá melhor numa poupança para minha neta, eu acatarei a decisão dela. Mas quero que minha neta escolha ela mesma o seu presente.

Para a publicitária e empresária paulista Lígia Ramos, encher um cofrinho de moedas rendeu-lhe subsídios para custear uma viagem muito esperada.

Professornews: O que você fez com as moedas economizadas?

Lígia Ramos: Passei sete meses juntando R$ 300,00 em moedas de R$ 1,00 para brincar o Carnaval de 2012 em Salvador. O dinheiro serviu para pegar condução, comprar lanchinhos e lembrancinhas para mim, minha família e amigos.

A exceção entre os adultos está o garoto João Gabriel Moreira, de 4 anos, aluno de educação infantil em Olinda (PE), que economizou durante um ano para comprar um brinquedo neste natal. Conversamos com a mãe dele, a auxiliar de administração Gleide Moreira no mesmo dia em que foram a um shopping center e compraram o boneco Elementor da coleção Max Steel. A renda familiar deles é de R$ 2.150,00.

Professornews: Como começou o interesse do garoto em guardar moedas?

Moedas Gabriel IIGleide Moreira: Tudo começou quando a avó dele comprou um cofrinho do Homem-Aranha para ele. Gabriel se animou e disse que ia economizar para comprar um Playstation (videogame), mas como ele ganhou um do avô Antonio Moreira, e tinha ganhado vários bonecos do Max Steel no Dia das Crianças, resolveu guardar as moedas para comprar o monstro Elementor. Certa vez, deixei R$ 20,00 em cima da mesa, e ele foi lá e pôs dentro do cofrinho (risos). Expliquei ao menino que ele não podia pegar dinheiro sem pedir. Depois, deixei dinheiro espalhado pela casa para fazer um teste, mas ele não pegou mais.

Professornews: E a satisfação dele na hora da compra?

Gleide Moreira: Com R$ 100,00 economizados, ele mesmo foi empurrando o carrinho com o cofre até o shopping, comprou o boneco, que custou R$ 99,90, e pagou diretamente ao caixa. Ficamos lá parados por cerca de 20 minutos, conferindo as moedas. Os lojistas fizeram uma festa, já que precisavam de moedas para dar trocos pelas compras de natal. Ele estava radiante, até dormiu com o boneco. Fiquei feliz em vê-lo satisfeito.

Mesmo que pareça que a poupança em cofrinhos beneficie algumas pessoas, por outro lado, prejudica a nação. De acordo com o site Acontecendo Aqui, o Banco Central informou que cerca de 27% do volume de níqueis deixa de circular por armazenamento ou perda. Isso representa R$ 508,3 milhões que deixam de circular no mercado. Por isso, o Brasil é obrigado a produzir novas moedas.

Em 2012, o Governo gastou R$ 320 milhões para produzir 1,25 bilhão de níqueis.Em 2013, o Banco Central requisitou à Casa da Moeda a produção de 2,31 bilhões de unidades.

As moedas de R$ 0,05 e R$ 0,10 custam mais do que seus valores para serem cunhadas, sendo R$ 0,14 e R$ 0,16, respectivamente, enquanto a moeda de R$ 1,00 sai por R$ 0,29.

Sobre isso, o professor Claudio Quirino Fiel, professor de Contabilidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, ensina que manter dinheiro parado não é a melhor solução.

Professornews: As pessoas que guardam moedas em casa fazem bem à nação?

Claudio Quirino: Pessoas que não são investidores, mas poupadores de capital em casa (poupança financeira doméstica) acabam prejudicando a economia e contribuindo para o crescimento da inflação nacional. Isso, porque as moedas correntes ficam fora de circulação no comércio, obrigando a nação a gastar mais recurso financeiro para a fabricação de novas moedas e cédulas. Na verdade, o dinheiro parado desvaloriza, enquanto poderia render mais se fosse investido em conta poupança em uma instituição financeira, além da segurança para custódia desse recurso.

Considerando que existem pessoas classificadas como consumistas compulsivos, o ideal seria criar a cultura de planejamento financeiro. Para solucionar o problema, o primeiro passo seria fazer uma planilha de ganhos e gastos e avaliar a necessidade real de novos gastos, investindo toda reserva gerada (exemlo: poupança programada). Outra questão seria evitar o uso desordenado do cartão de crédito para evitar pagar juros que não agregam valor. E, para as compras a vista, vale discutir a possibilidade de desconto financeiro.

Outra boa solução seria a abertura de um plano de previdência, podendo investir todo mês uma parte do salário. Com isso, gera um compromisso que, psicologicamente, poderá impedir que se faça novas dívidas.

 

*Os nomes do jornalista e da professora foram trocados para preservar suas identidades. As fotos do garoto Gabriel são de autoria de sua mãe.

 

Fotos e reportagem: Alexandre César

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