Grandes professores e educadores: César Lattes

Cientista foi o responsável pela descoberta do méson pi

Cesare Mansueto Giulio Lattes dá o nome ao cadastro mais usado por instituições de ensino para acessar o currículo de pesquisadores do Brasil, tamanha é a significância de excelência que seu nome carrega. O ProfessorNews relembra a história de um dos cientistas mais brilhantes que o Brasil já produziu: César Lattes.

Filho de imigrantes ítalo-judaicos, Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes, nasceu em Curitiba em 1924, mas ainda viveu um ano na Itália durante sua infância. Seu pai, Giuseppe Lattes, gerente de banco, anteviu em mais de uma década que os conflitos na Europa atingiriam os povos semitas, e a família retornou à América do Sul.

De volta ao Brasil, aconselhou ao jovem César: “Procure uma profissão que possa levar na cabeça para se dar bem em qualquer lugar. Otorrinolaringologia pode ser uma opção”, disse o pai. O futuro cientista acatou a sugestão do pai, mas não aceitava dissecar cadáveres, “Meu estômago é fraco”, disse ele, certa vez.

O próprio Lattes admitia que fora um aluno apenas regular na juventude, embora mostrasse excelentes resultados em Matemática e Física. “Não estudava e assim mesmo me saía bem nas provas. Mas, no resto, era um aluno medíocre”, afirmou.

A sua vida mudou quando conheceu o grande físico italiano Gleb Wataghin, que recebia seu salário de professor universitário no banco em que o pai de Lattes era gerente. Ao notar a habilidade do jovem com números, Wataghin aconselhou-o a largar o Magistério. Lattes aceitou o conselho e formou-se em Física pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo (USP).

Na faculdade, destacou-se entre os colegas e começou a participar dos projetos de seus professores. Um deles se tornou memorável para o cientista, quando outro professor italiano, Giuseppe Occhialini, se encontrava atarefado com o estudo de novas partículas da Física. O mestre mostrou ao aluno a análise de traços de partículas em emulsões fotográficas. “Não me deu aula. Chegava com o filme molhado que acabara de revelar e mandava: ‘Destrincha isso aí’. Era um método estranho, mas extremamente rico de ensinar”, citou Lattes.

A guinada na carreira e o reconhecimento mundial chegaram quando César Lattes se transferiu para a Inglaterra, na Universidade de Bristol, em 1945, ao lado do mestre Giuseppe Occhialini e com o inglês Cecil Powell. Ao acrescentar boro à composição das emulsões, para conservar por mais tempo os traços deixados pelas partículas na chapa fotográfica, Lattes detectou, pela primeira vez, o méson pi, partícula atômica de carga igual e massa 300 vezes superior à do elétron.

O méson pi havia sido deduzido pelo cientista japonês Hideki Yukawa em 1934, mas nunca fora vista. Com apenas 23 anos, o jovem cientista perdeu por muito pouco o Prêmio Nobel pela sua descoberta. Mas por ironia do destino, sua pesquisa saiu vencedora mais tarde. Em 1949, Lattes voltou ao Brasil, mas Occhialini e Powell continuaram a pesquisa e arrebataram juntos, o Nobel em 1951. César Lattes ainda faria outra grande descoberta, quando analisou mésons “artificiais” no acelerador nuclear de Berkeley (EUA) e abriu as portas para a pesquisa mundial de partículas atômicas.

Uma curiosidade a seu respeito foi sobre sua pouca fluência no idioma inglês. O físico contou que, certa vez, foi a uma festa nos Estados Unidos e uma garota ofereceu-lhe salgadinhos e exclamou: “Take what you want (Pegue o que você quiser)”. “Interpretei ao pé da letra e lhe dei um beijo na boca”. A situação só não se tornou pior, porque a reação da moça não foi um tapa de volta, e, de recompensa pelo ato, ganhou uma namorada naquele dia.

Por seu valor inestimável à ciência, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) deu seu nome ao sistema de cadastro de cientistas e pesquisadores, que é a base de dados de currículos intitulada Plataforma Lattes.

Fonte: Revista IstoÉ.

Adaptado por: Alexandre César de Melo

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